sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

MEMÓRIAS DE ACESSO RANDÔMICO







por Thintosecco



O ano está acabando, mas antes que se vá e 2014 chegue, quero dizer algumas palavras sobre o melhor álbum que ouvi em 2013: Random Acess Memories, da dupla francesa Daft Punk. Já falei sobre os "robôs" em posts anteriores e só o fato de terem trabalhado com Leiji Matsumoto, o criador de mangás e animes, já seria motivo de nosso interesse. Porém ainda produziram a interessantíssima trilha de Tron Legacy e neste ano realmente superaram-se como músicos e compositores. 


RAM ultrapassa os limites da música eletrônica, misturando com maestria a sonoridade digital dos sintetizadores e samplers com o insuperável som analógico de baixos, guitarras e baterias tocadas por mãos humanas. Por sinal, que mãos! Lá está a guitarra "funkeada" de Nile Rodgers, que tornou famosa a banda Chic nos tempos da disco music (e que se ouve também em alguns hits famosíssimos da Madonna, do David Bowie e do Duran Duran). E também o baixo de Nathan East, que durante muito tempo tocou na banda do Eric Clapton e já foi considerado o melhor do mundo no instrumento. Nos vocais, há várias participações especiais, sendo mais famosa - por conta do sucesso da faixa Get Lucky - a do rapper Pharrel Williams.   















No entanto, RAM  é uma verdadeira "caixinha de surpresas". Logo na terceira faixa surge a inusitada parceria com o produtor-compositor Giorgio Moroder. Inusitada porque a faixa em questão - Giorgio - é algo bem diferente: é um depoimento onde o artista conta sua história e um pouco do que aprendeu, mas é também uma música, ou melhor uma senhora aula de música! Escute. Não uma, mas duas, três... é impressionante e não vou tentar descrever.











Depois vem Within, onde se ouve um piano com um toque "clássico", e seguem-se dois hits que ainda se farão ouvir muito por aí: Instant Crush (com vocal de Julian Casablancas) e Lose Yourself to Dance, com Pharrel Williams, que ainda serão muto executadas mundo afora. E então eles nos deixam boquiabertos mais uma vez em "Touch". 







A propósito, alguém de lembra de Paul Williams? Se o nome não diz nada, dê uma olhada nas fotos abaixo. O cara era figura carimbada em programas de tevê dos anos 60, inclusive com muitas participações nos Muppets, sendo um dos principais compositores das músicas dos bonecos do Jim Henson. E foi protagonista do filme "O Fantasma do Paraíso", que foi uma viagem do Brian de Palma, vagamente inspirada no Fantasma da Ópera, que ironizava a indústria da música, mas tinha um pouco de tudo.
















É um daqueles filmes do tipo que não se faz mais e que deixaram saudade... Mas eis que ressurge o cara, das profundezas do ostracismo, no álbum do Daft Punk! Touch é um capítulo a parte no álbum, se aproxima do rock progressivo, eu acho, com um certo toque "teatral", realmente diferente.  






Então vem a já clássica Get Lucky, que dispensa comentários: fenômeno mundial. Após isso, você acha que já ouviu tudo e se engana de novo. As faixas seguintes são ótimas! Destaco Motherboard, onde os robôs retomam aquela linha do Tron, mas com um toque a mais, muito bom, e Fragments of Time, que também tem pinta de hit. 






Acabaram as surpresas? Não, ainda falta uma, chamada Contact. Vejam só: consta que a dupla conseguiu junto à NASA acesso às gravações das missões Apollo. Seria material para "inspiração". As gravações lhes sugeriram o tal "contato", que se traduz nesta música que é a "chave de ouro" do final. Comece ouvindo alto, mas prepare-se para baixar o volume, ou, pelo menos, retire os gatos da sala!






Random Acess Memories é um para ser ouvido como se fazia com os bons discos de antigamente. Pare com tudo e ouça. Deguste. Digo pra vocês: fazia décadas (mesmo) que não usava a expressão com que defini essa obra: um arraso! 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

THE LITTLE DRUMMER BOY, O CLIPE

Uma canção tradicional em versão interpretada por John Denver.
Eu procurava só a música, mas quando encontrei esse clipe, que aproveita trechos da animação de mesmo nome, me senti no dever de colocar aqui. 

FELIZ NATAL!


CONCERTO DE NATAL COM IAN ANDERSON

sábado, 30 de novembro de 2013

O HOMEM DE AÇO








por Quatermass



O Homem de Aço (Man of Steel – 2013) é mais uma releitura bem sucedida de Christopher Nolan. 


Confesso que tive certo receio em assistir este filme. Os Superman infantojuvenis dos anos setenta e oitenta (1978, 1980, 1983 e 1987) e a versão insossa de 2006 (Superman o Retorno) beiravam entre o puro divertimento, o histriônico, o traumático, o decepcionante e o ridículo.  Superman I e II, apesar de dirigidos por Richard Donner, possuíam abordagens diferentes. O de 1978 era do gênero fantasia, com cenas antológicas e divertidas do vilão solo Lex Luthor (Gene Hackmann) e seu atrapalhado comparsa Otis (Ned Beatty). Já o de 1980, era aventura e desta vez Lex Luthor dividia a vilania com General Zod (Terence Stamp), ambos ótimos como sempre. 


Daí em diante a casa caiu: além de não resgatarem o espírito dos dois primeiros filmes, a ausência de um roteiro coerente resultou em autoparódias sem graça e pouco originais. Após o filme de 2006 o assunto passou a ser tabu, até cair nas mãos do diretor/produtor/roteirista Christopher Nolan. E o desafio era grande: criar uma história que superasse a ruindade dos últimos e o de, ao menos, alcançar o filme de 1978. 











Com seu tradicional “realismo-bruto-extra-violento”, Nolan não só alcançou os filmes de Richard Donner, como também superou pelas beiradas. Seu estilo é próprio, ou seja, não tem fantasia nem aventura sem dose extra de extrema violência. E esta violência não é na base de porrada tipo Schwarzenegger/Stallone/Van Damme, mas pela demonstração pura, primitiva e anabolizada da maldade,  pela desumanização do ser.


Exemplos? Dou três: no Batman de 2008 quando o Coringa (Heath Ledger) chega numa reunia de bandidos e para mostrar força afirma que fará um lápis desaparecer e o faz pela testa de um deles; segundo, no Batman de 2012, quando Bane (Tom Hardy) deixa para morrer no Bandeirante um de seus comparsas; terceiro, em O Grande Truque (2006), pela forma como Robert Angier (Hugh Jackman) consegue se teletransportar. 


Seu Homem de Aço não questiona a ausência do super-herói após passar uns tempos fora, como no filme de 2006, nem traz comediante sem graça para salvar o roteiro falido como no de 1983, ou uma história politicamente correta e absurdamente fraca como no de 1987. Ao contrário: seu superman é o mais humano dos últimos tempos, é o que possui menos traumas em se situar e assumir uma relação, que aceita estar entre humanos não porque sejam fracos e inferiores, mas porque seus inimigos são superiores. 












Nolan é acima de tudo pragmático: não há lugar para questionamentos morais (vide A Origem, O Grande Truque, os Batmans, etc), são os fins que conduzem e justificam os meios e é pela incrível variedade dos meios encontrados que seus roteiros se baseiam. Se Tim Burton permeou os Batmans de 1989 e 1992 com criaturas atormentadas e desajustadas socialmente num ambiente gótico, Nolan não busca explicar a causa do tormento e sim nos presenteia com o resultado deste. 











Com relação à história, bom... aí sim é uma releitura de Superman II (1980): General  Zod e seus companheiros são banidos de Kripton por traição. Kripton por sua vez é destruída, porém, antes Jor-El dá um jeito de embutir no filho o DNA de sua raça. Diga-se de passagem que aí começa a verdadeira mudança. Kal-El  foi gerado da maneira convencional e considerado uma aberração por Zod. Depois de muito trololó Zod encontra Kal-El/Clark Kent na terra e decide refazer sua raça através da eliminação/extração/depuração de nosso herói. Daí começa a pancadaria até o duelo final dos dois antagonistas.








Duas pontas a destacar são a presença de Russel Crowe como Jor-El e a de Kevin Costner como pai adotivo de Kal-El. Bem que essa dupla podia ter ficado uns minutos a mais. Não que o resto do elenco fosse descartável, mas a visão destes dois ‘good Guy’ levanta um pouco a moral diante de tanta pauleira. 


Embora dirigido por Zack Snyder, o filme é a cara do produtor Nolan. Enfim, não espere misericórdia do inglês: de todos os vilões o diretor/produtor/roteirista talvez seja o pior!

ÁS VOLTAS




 por Thintosecco


Pois é, pessoal. Fiquei um bom tempo sem postar. Primeiro porque queimou meu modem no temporal que caiu na tarde do feriado de 15 de novembro. Depois, disso compromissos diversos e por fim um "guru" no blogger que não deixava postar. Acho que na verdade era algum malware na minha máquina, que depois de uma limpeza, com desinstalação de alguns programas, finalmente foi resolvido. Então estamos por aqui de novo.

Nesse meio tempo, o mundo não parou, dentro e fora da internet. Entre os blogs, o ótimo blog Tela de Cinema foi bloqueado, mas já deu a volta por cima, voltando para ficar, acredito. O link na barra lateral já está atualizado. Boa sorte aos nossos amigos!

Por aqui, novas postagens estão chegando. Valeu!

terça-feira, 12 de novembro de 2013

GHOST IN THE SHELL






por Quatermass



O Fantasma do Futuro (Ghost in the Shell – 1995) é um anime pouco divulgado e que merece ser conhecido.


Meu primeiro contato se deu por acaso: no extinto blog Papaia Celestial, do Eudes Honorato. Esse cara é incrível: até hoje ainda não descobri como conseguia postar tantos filmes de qualidade e bem legendados diariamente. Na época (uns cinco anos atrás), ao ler a sinopse, bateu a curiosidade. Já vou adiantando que não é um desenho de fácil digestão. 




 

 


A abertura começa com a reconstrução de uma policial: o que restou de seu corpo foi embalado em uma armadura humana. Logo, para Motoko Kusanagi a questão da nudez e da feminilidade é puramente acadêmica: é como um espírito na concha), ela é líder de sua equipe e mais nada. Não há lugar para erotismo no filme; esqueça as personagens sensuais e extremamente erotizadas de Leiji Matsumoto. 







Filme feito a seis mãos – foi dirigido por Mamoru Oshii e escrito por Kazunori Itô e Masamune Shirow (criador do mangá) – é curto e grosso: um hacker chamado Mestre das Marionetes controla temporariamente suas vítimas. Elas agem como zumbis, sem se darem conta de seus atos. A Seção 9 investiga a atuação de outro grupo que possa estar atrás do controlador dos fantoches.










  



Mas o filme vai além: descobre-se que o suposto hacker nada mais é senão um programa extremamente sofisticado, para quem os humanos não passam de números. Dizem... repito, dizem... que sua abordagem cyberpunk influenciou a popular, insossa e pouco original trilogia Matrix, dos Irmãos Wachowski. Seu visual é deslumbrante, beirando delírio. 






Criticamente falando até achei que a história bem que poderia ter se desenvolvido mais, é daqueles filmes que terminam e o espectador ainda fica aguardando o desenlace final; o enredo prende a atenção, apesar da pouca duração e trama complexa, há questões mal resolvidas que prosseguem na continuação de 2002. Como ainda não assisti o segundo filme, fica para a próxima vez! Fui!


domingo, 3 de novembro de 2013

WILLIAM SHATNER: PONDER THE MYSTERY





Acreditem: William Shatner lançou um álbum de rock progressivo!

Sim, o velho Capitão Kirk (octogenário, aliás) recrutou músicos de bandas clássicas do progressivo, que musicaram poemas de sua autoria, que ele mesmo interpretou no álbum PONDER THE MISTERY, que tive oportunidade de ouvir hoje. Bem interessante!

Penso que talvez o velho "Jim" tenha se inspirado noutro veterano, Christopher Lee, que não faz muito tempo lançou um álbum de heavy metal. É, alguns desses tios não querem mesmo parar!

Não é brincadeira, podem conferir! A faixa Do You See? tem participação do Edgar Froese, do Tangerine Dream.

Obrigado à Fê pela dica.



PIRATES, a música


Pegando uma carona no post anterior, posto outro clipe do Emerson, Lake and Palmer.

Na época dessa música (lá por 1977), experimentaram o rock sinfônico, que seria uma variação do progressivo, caracterizada pela orquestração.

Nesse caso, ficou legal!




quinta-feira, 24 de outubro de 2013

LUCKY MAN









 por Quatermass



Quanta saudade do início dos anos oitenta. Na TV aberta passavam vídeos musicais da década anterior... na televisão de sinal aberto! Grátis, sem precisar pagar por pacote algum, sem controle remoto; o único custo era a conta de luz. Por sua vez, outro fenômeno retrógrado sou eu: sempre na contramão. Se no final dos anos setenta a moda era a discoteca, o ser estranho aqui devorava quadrinhos (da RGE, Ebal, Abril entre outras), assistia Jornada nas Estrelas e curtia rock progressivo


O que há de anormal em quadrinhos? Hoje em dia nada, mas naquela época todos eram “gibis”, leitura destinada ao público infantil e acusada pelos intelectuais de ser pregação imperialista. Na música e nos seriados também recaiu tal interpretação maniqueísta: as letras não teriam conteúdo e os roteiros cumpririam papel de escapismo. Esta visão, já desgastada, migrou para os fundamentalistas, cujos discursos têm público cativo. 


Ainda assim o então adolescente nerd, de óculos, de pasta (aqui cumprindo dupla finalidade: além do material escolar, servia para guardar livros e revistas adquiridos em “sebos”) e irritantemente quieto tinha uma vidinha aparentemente calma. OBS: o curioso é que se passaram quarenta anos e continuo igual, só mudei de pastas. 
 


  

 


E que vidinha calma em 1978/1979: Jethro Tull, Emerson Lake & Palmer, Pink Floyd, Queen, Nazareh, Deep Purple, Rolling Stones entre outros; enquanto a maioria certinha e os pseudointelectuais curtiam Disco Music e MPB. Se me sentia mal? Nem um pouco, solitário talvez. Não tinha papo com meus coleguinhas do colégio e vice-versa; as sintonias estavam em frequências diferentes. O mesmo se verificava quanto a namoros. No fim, optei por ceder, sob pena de terminar eremita e mal afamado, ou seja, tive que emburrecer para ficar no mesmo patamar dos dois extremos.  Sorte a minha que as coisas evoluem, ainda que demoradamente, e pude assistir a mudança em ¼ de século. 


Mas não se entusiasmem que não foi tanta assim: ainda é comum confundir Star Trek com Star Wars, que Nazareth foi a cidade onde Jesus viveu e que agora existem quadrinhos para adultos, adolescentes e os infantis! Quadrinho é quadrinho, pô!!! 


O mesmo não se verificou no Rock: o Rock Progressivo surgiu nos anos sessenta e se foi nos setenta. Uma triste constatação: movimento musical que tinha tudo para revolucionar o Rock ficou dando voltas em sí até cair. Tentou ser uma evolução musical e acabou virando alternativa, descartada em seguida. Assim como a flauta é o símbolo do Jethro Tull, a introdução do sintetizador é a marca do EL&P. 








 

Atualmente existem várias tendências, sendo as principais o metal pesado e o pop. Por que aconteceu dirá o nobre internauta? Porque surtos de genialidade são limitados: surgem, brilham e se ofuscam. Seria como um ciclo de vida, só que em escala menor e da qual pude assistir, ainda que pelo fim.







  


Em 1970 a banda Emerson, Lake and Palmer lançou o álbum de estreia homônimo. Nele tem uma faixa que é das minhas favoritas: Lucky Man. Nesta música se faz presente o som progressivo, a melodia, a letra – pura qualidade – tudo o que fora negado no Brasil dos anos setenta. Uma minoria (muito pequena mesmo) curtia EL&P. O bom disso é que não esqueci a música e seu contexto; assim sendo, quero compartilhar com vocês. Que cara de sorte eu sou!



sábado, 19 de outubro de 2013

GRAVIDADE








por Quatermass



Gravidade (Gravity - 2013) é um filme de ficção científica que realmente faz jus a sua recém adquirida fama. Tendo recebido a raríssima nota 8,7 do IMDb, achei que fosse exagero. Mas não. 


Talvez exagerada fosse a tentativa de traçar comparação à obras de culto como 2001 - Uma Odisséia  no Espaço (1968) e Solaris (1972). O filme de Stanley Kubrick aborda questões como nascimento, morte e evolução; já o de Andrei Tarkovski  trata a existência humana. Ambos são filmes de longa duração, lentos e complexos a ponto de que obras posteriores, como 2010 e a versão americana de Solaris careçam de conteúdo e representem visões muito, mas muito simplistas dos originais, ou seja, são releituras fracas e insossas. 


Filmes de culto não buscam explicar: jogam imagens, sons, ideias e concepções ao expectador. Não buscam retorno, não almejam bilheterias, não escolhem o caminho mais curto e sem pedras. Não são vazios, ao contrário, detém uma ou mais ideias subliminares; espontaneamente causam impacto, ficam na memória do cinéfilo, geralmente em cenas memoráveis.


Já Gravidade não foi dirigida por um monstro do cinema (ainda). O mexicano Alfonso Cuarón, resgata aspectos caros à Kubrick e Tarkovski:  respeito à verossimilhança. Se no espaço não há ar, não há som. Pode parecer idiota o que estou dizendo, mas quantos filmes de ficção apresentam silêncio no vazio? Há ação, mas sem som; ao invés, os diálogos e a trilha sonora de Steven Price compensam os demais ruídos. A música é hipnótica e terrivelmente impositiva.















De outro lado, é a melhor atuação de Sandra Bullock que já vi; o canastrão George Clooney está na dele. Agora, a história: destroços de um satélite russo ameaçam a missão espacial americana. A Dra. Ryan Stone (Bullock) é a única sobrevivente. No entanto, está só no espaço: o ônibus espacial foi destruído e não há como voltar senão em um dos módulos da Estação Espacial Internacional, que também está prestes a ser destruída. 


Além de ser uma corrida contra o tempo, agravada pela condição de astronauta solitária, ainda tem que lidar com a ausência de gravidade e todas as piruetas que advém. Não chega a ser tedioso como em Mar Aberto, onde um casal de mergulhadores é esquecido no meio do Pacífico; mas exagera ao fazer crer que há mais chances de se salvar em órbita da terra do que no meio do oceano. 






 


Gravidade não trata questões metafísicas, mas sobrevivência, esperança e fé, temas que escapam em 2001 e Solaris. Daí porque é inovador: seus questionamentos são singelos, portanto, simples, só que inteligentemente tratados por Cuarón. 



sexta-feira, 18 de outubro de 2013

À PROCURA DE UM CLÁSSICO




O blog já completou seis anos de vida e neste período uma postagem se destacou pela quantidade de acessos e de comentários. No instante em que redijo estas linhas, o Google registra 46.312 visualizações da nossa postagem sobre a animação O Pequeno Príncipe E O Dragão de Oito Cabeças.

A magia contida neste filme talvez seja eterna, porque quem o assistiu, mesmo que há décadas (literalmente), quer ver de novo e guardar. E a maioria dos 22 comentários feitos naquele post são de amigos que perguntam ou indicam onde achar o download do filme. 


Pois bem, em respeito à obra e seus inúmeros fãs, não podemos deixar de registrar que o desenho do Príncipe Suzano pode ser encontrado em postagens recentes de dois blogs amigos: no Tela de Cinema e no Cartwright Movies. Seguem os dois links de "utilidade pública". Confiram.





A propósito, recomendo muito a visita  aos dois blogs referidos. 

E, para quem quiser ler a postagem original deste blog, é só dar uma olhadinha na barra lateral, na parte das postagens mais acessadas, porque o príncipe Suzano raramente sai dali!


Por enquanto é isso. Porém, muito em breve neste blog, teremos a análise de GRAVIDADE, by Quatermass. Valeu.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

ADEUS E OBRIGADO HOBBYCRAFT







 por Quatermass



Nesta semana encerraram-se as atividades da mais antiga loja de plastimodelismo do sul do Brasil. Sempre fico reticente quando um comerciante alardeia estar a “tantos anos” em funcionamento ou “desde 19...” Estou triste, pois nestes 25 anos aprendi muito sobre plastimodelismo e criei grande ojeriza dos plastimodelistas. Junto com meu amigo Luiz, da Livraria Aurora, a Hobbycraft era o segundo motivo para minhas peregrinações ao centro de Porto Alegre. A Hobbycraft fechou não só porque os tempos mudaram, mas, principalmente, porque os plastimodelistas não evoluíram. 


Em meus 49 anos descobri o hobby no início dos anos 70, quando não havia Internet, TV a cabo, nem videogame. Ao contrário, existiam quatro canais de TV aberta, em preto e branco, um número reduzido de brinquedos, autoramas e ferromodelismo carésimos, e os kits plásticos injetados e distribuídos pela Kikoler. Os moldes eram oriundos da Revell americana. 


Surgida no início dos anos 60 importando os primeiros modelos em escala, a Kikoler cresceu em 10 anos, a ponto de estar presente desde as grandes lojas de departamentos, como Mesbla, Hermes Macedo e Lojas Americanas, até pequenos bazares e tabacarias. Em POA surge a Hobby Brinquedos, também no centro, onde podiam ser encontrados kits importados da Airfix, Monogram, Matchbox, Frog, Tamiya e outras.






O plastimodelismo proporciona um efeito hipnótico: faz com que seu praticante sonhe. Sonhe em um dia tirar as peças da caixa e montar; sonhe em montar um modelo realmente em escala do avião, carro, navio, tanque, originais; sonhe em criar novos laços de amizades com outros plastimodelistas. Mas a vida mostra que tudo são fases: são momentos que surgem, são curtidos e depois acabam.


A vida mostra que sonhos têm curta duração. Nunca esperei contar com ajuda ou orientação de outro plastimodelista e ainda bem que assim pensei, pois nunca me decepcionei. E como exemplo, cito um causo da própria Hobbycraft: surgida em meados de 1988 era do conhecimento de grande parcela dos então plastimodelistas da época, mas sempre que indagava o endereço, lá vinham as desculpas do gênero “sei onde fica, mas não lembro o número, nem a rua”, “tinha anotado o telefone, mas esqueci em casa”, “fulano já foi lá mas acho que não é naquele endereço”.





Realmente, plastimodelista gaúcho é um grandessíssimo bundão: seu ego é maior que a Amazônia, mas o resultado fica aquém do maternal. Certa feita, em 1993, fui convidado a participar de uma exposição com distribuição de prêmios num cafofo do centro, point da "magrinhagem balaqueira". Na véspera fui verificar o trabalho dos competidores e vislumbrei, lado a lado, dois kits aparentemente em mesmo pé de igualdade: ambos pintados a pincel, ambos eram aviões. 


Mas não havia paridade: o T-6 fora montado por um senhor cinquentão que frequentava a "tchurma", o MiG-29 era de autoria desconhecida. Mas um detalhe me chamava a atenção: a roda da bequilha do T-6 estava pintada em alumínio, quando deveria ser cor de borracha; já o avião russo fora pintado honestamente (cada cor no seu devido lugar).  Já fiquei com pé atrás! 


Não deu outra! Após a realização do evento, compareci na loja e fiquei sabendo que o T-6 ganhou o 1º lugar na categoria aviação; ao MiG-29, nada. Nada surpreendente já que além de egocêntrico o plastimodelista dos pagos também é barraqueiro. Mas meu queixo caiu quando apareceu o dono do MiG: na mesma hora chegaram dois meninos e um deles falou: “fulano, vim pegar meu kit”. O guri pegou o avião e cuidadosamente guardou em uma caixa, saindo do estabelecimento silenciosamente. Nunca mais o vi no cafofo, na Hobbycraft, nem em qualquer outra loja. E este fato sempre ficou em minha memória: a inexistência de uma nova geração de plastimodelistas. 


Já que a velharia se criou montando aviõezinhos injetados pela teimosia de seu Arno Kikoler, por qual motivo uma criança hoje em dia se meteria num hobby fechado, que exige conhecimentos em pesquisa, montagem, acabamento, pintura e a necessidade de se entrosar com outros praticantes narcisistas, quando existem videogames, legos, e muitos outros hobbies que não existiam há cinquenta anos atrás? “Just a hobby. It’s a fun” não se aplica no Brasil. Lá fora americanos, europeus e asiáticos levam a sério, o hobby cresceu, evoluiu, mas não se esqueceram dos mais jovens: sempre há um lugar para novatos. 






No Brasil existe a geração Kikoler e pós-Kikoler. A primeira, começou montando kits nacionais até o fechamento da Kikoler no início de 1990, e passou a comprar kits importados, agora legalizados na era Collor; a segunda seria a geração curiosa, a de vinte anos para cá, quando na casa de alguém, viu o kit montado, achou legal, quis fazer igual, mas não sem empolga em investir em livros, aerógrafos ou acessórios. O resultado é que com o tempo, a primeira geração vai se indo, enquanto que a segunda, se entedia com a possibilidade de deixar de comprar um Big Mac ou um Blue Ray para montar plástico.


Agora, vamos deixar de lado um pouco este lado deprê e falar da Hobbycraft e do hobby. Apesar de não parecer, já fui criança. Portanto, houve tempo que sonhava. Sonhava com a possibilidade de ver montado um kit igual a uma pintura de Jack Leynnwood. Adorava montar um avião 48 ou 72 vezes menor, sem me importar com opiniões. O melhor deste hobby não é o produto acabado, mas o processo de montagem, as dificuldades, as imperfeições e as necessárias correções, e a história que daí advém. A curtição começava na loja: qual kit escolher, que tintas comprar, qual a nacionalidade... um belo e adorável drama. Just a hobby. It’s a fun – “apenas um hobby, isto é diversão” é a expressão perfeita para definir o sentimento de um  verdadeiro plastimodelista. Não é para excluir, mas fazer amigos e curtir troca de experiências.






Este estado de sentimentos somente havia encontrado na Hobbycraft. O Flávio é um sujeito super acessível, até mesmo para um “mala” saudosista como eu. Não se nega a ensinar, desde que o cara realmente esteja a fim  de aprender. Dono de um leque muito grande de ideais, fundou um museu, incentivou o hobby como pode. De volta a 1988 estava eu atrás de uma loja assim. Mas sabe como é... ninguém se lembrava do nome da loja, do telefone ou do endereço, utilizando-se das desculpas mais descaradas e criativas do Rio Grande. Mas foi num anúncio nos classificados da Zero Hora, que descobri o local da Área 51 de Porto Alegre. Em outubro daquele ano entrei em contato com um outro mundo. Não haviam discos voadores, nem Ets, melhor que isso: duas prateleiras lotadas de publicações da Squadron e kits consignados. 


A loja começou junto a um escritório de arquitetura, quando no ano seguinte passou para uma outra sala comercial na mesma Ramiro Barcelos. Em 1992, mudou-se do bairro Bomfim para o Centro, mais precisamente numa galeria da Rua Demétrio Ribeiro, numa loja maior para atender a demanda então crescente daquela década. Mas a entrada do século 21 significou uma mudança gradual, ainda, que imperceptível de tendência: a Hobbycraft já estava consolidada há mais de dez anos, era conhecida nacionalmente, tanto pelos kits quanto pela representação no Brasil da Squadron; mas, inexoravelmente, a Internet facilitou o acesso a e-books gratuitos, compras no exterior e artigos em sites e blogs especializados. Se por um lado facilitou a vida do praticante do hobby, pôs em desvantagem o comerciante que paga impostos, aluguel, condomínio e faturas para manter seu negócio. 


Mais recentemente mudou-se para a Av. Borges de Medeiros, perto do cinema Capitólio. Daí que, como cliente, passei a presenciar pessoas ingressando na loja para perguntar se “tiravam xerox”, “se vendiam aeromodelos”, ou que simplesmente passavam o tempo durante o horário de almoço perguntando preços de todo o estoque ou que apenas queriam conhecer a loja ou, ainda, para gastar o tempo em prosa, afirmando que há priscas eras montava kits Revell e que no dia seguinte voltariam para levar o modelo. 


Toda esta provação demonstra que um hobby estimulado por um visionário no início dos anos sessenta morreu quando o Sr. Arno Kikoler passou para um outro plano; o que se segue é um lento e inexorável processo de agonia. Muitas lojas fecharam e chegou a vez da Hobbycraft. E lamento duplamente, pela ausência de referencias e pelo fato de que mais uma livraria se encerra em Porto Alegre.







O brasileiro em geral e o gaúcho em especial é curioso: sempre alega que iria comprar o livro ou a mercadoria recém vendida, mas não compra nenhuma outra; chora quando um estabelecimento fecha suas portas dizendo desconhecer as verdadeiras causas que motivaram este ato extremo; em suma, aparenta ser detentor de grande humildade quando na verdade a abomina. E é por isso que digo, pelo ¼ de século de perseverança do Flávio e sua loja: adeus e obrigado pelos momentos inesquecíveis!




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