segunda-feira, 31 de março de 2008

DOIS NO CÉU

por Quatermass


Nunca duvide da capacidade de uma criança guardar imagens em sua mente! Algumas serão levadas até o túmulo! E estas imagens podem ser extrapoladas em filmes. Foi o que fiz ao ver Dois no Céu (A Guy Named Joe – 1943). Confesso, vi várias vezes nas tardes da Globo, mas fazem mais de trinta anos. Mas também me lembro de ter visto uma vez na madrugada de sábado. Era guri, mas aprendi a apreciar obras cinematográficas muitas vezes sem saber o porquê. Óbvio, até hoje gosto de um bom filme (outros, preferem cerveja, pescaria, carros), mas aprendi a interpretar a razão. Por que Dois no Céu não me sai da cabeça? Por dois motivos: Spencer Tracy e a condução da história. Spielberg refilmou Dois no Céu como Always (1989), com Richard Dreyfuss, mas torci o nariz. Este filme é colorido, com atores contemporâneos, trilha sonora contemporânea, fotografia contemporânea, direção contemporânea. Mas falta algo. Algo que me chamou a atenção, algo que diferencia um filme do outro, de uma época para outra. Porque Casablanca é Casablanca? Não basta fazer uma refilmagem e esquecer o original? Será que os filmes são bons ou ruins pelo período? Não! Cada filme é um filme.

É redundante, mas nunca percebemos. Costumamos dizer que vimos a nova versão, como se esta trouxesse de volta todas as qualidades do original. Isto é falso! No máximo, uma releitura. Direção, fotografia, roteiro, atores, trilha sonora, nada disto é resgatado. Este é o valor de qualquer filme. Faça dez versões da mesma obra que serão dez filmes diferentes. Always não é, não será, nem nunca foi Dois no Céu. Richard Dreifuss não é Spencer Tracy. Muitas vezes chegamos a conclusões pelas contradições alheias. O segredo está em discernir pacientemente.


Mas vamos à história, vista pelo chato professor quando criança: durante a segunda guerra mundial, Pete Sandidge (Spencer Tracy), piloto de bombardeiro, namora Dorinda Durston (Irene Dunne), que também é piloto, mas para o transporte de aviões de guerra até o front. Após se despedirem para uma arriscada missão Sandidge morre ao chocar-se com um navio inimigo. Foi direto para São Pedro, mas como também é um filme de propaganda de guerra, lá no céu lhe é incumbido fazer papel de anjo ao auxiliar Ted Randall (Van Johnson), um desastrado novato candidato a piloto de combate.


Volta e constata, para seu desgosto que seu protegido se sente atraído por sua ex. De início relutante, ela apaixona-se pelo protegido, mas ao saber que também lhe é designado uma perigosa missão, parte em lugar do namorado. Qual foi o momento marcante em Dois no Céu? Este. Durante o vôo nossa mocinha não está só em seu P-38: Sandidge também a acompanha. Detrás de seu assento começa a falar com ela, quase ao pé do ouvido, declarando tudo aquilo que nunca antes teve coragem. E daí? Daí que ela o ouve! Esses diretores dos anos quarenta ainda têm muito a nos ensinar e Victor Fleming nos exibe uma declaração de amor singela, sincera e carinhosa, nada mais. Não precisamos ouvir Spencer Tracy, pois o rosto da atriz diz tudo. Isto é empatia. Isto é cinema!

VÍDEO 1

VÍDEO 2

quinta-feira, 27 de março de 2008

TRILHAS SONORAS



Tem gente que nem nota. Outros reparam e acham importante para criar o "clima" do filme. Há outros ainda que não apenas a
preciam, mas colecionam, considerando-as até mais importantes que a própria obra em que se encontram inseridas. Estas são as trilhas sonoras (bandas sonoras, em Portugal), uma denominação comumente usada tanto para referência à música incidental dos filmes, como a coletâneas que canções que eventualmente são executadas durante a exibição da película.

Essa introdução - uma definição nossa que não deve ser levada tão a sério - é apenas para destacar um blog que vai aqui muito recomendado, o Viagem Musical (viagemusical.blogspot.com). Nesse blog - que faz horas que estou para comentar- o pessoal pode encontrar uma bela coleção de trilhas de filmes e seriados antigos, entre outros arquivos. Tudo com links para baixar pelo rapidshare e com comentários sobre as obras originais. Parabéns à Sílvia. Vale muito conferir. Uma trilha que pode ser encontrada lá é, por exemplo, a de Três Homens em Conflito, do Ennio Morricone.

E hoje, ao preparar esta postagem, me deparo com uma baita coleção de CDs que compõem a trilha do seriado Anos Incríveis, com a nata d0 pop/rock dos anos 60 e 70. Que tal? Vai lá, que tem muito mais.



quarta-feira, 26 de março de 2008

VENTO NEGRO


por Quatermass


Um dos fenômenos verificados no Brasil dos anos setenta foi que as bandas, cantores e canções surgiam, faziam sucesso e desapareciam com a mesma rapidez e ainda assim permaneceram eternizadas.


Vento Negro e os Almôndegas são indissociáveis. Ambos deixaram saudades. Volta e meia me deparo com a mesma situação: só venho a apreciar determinada música/banda/cantor quando deixam de existir. Só que Vento Negro já conhecia e gostava na época.


Para quem não conhece ou recorda, explico: no início dos anos setenta uma trupe musical chamada os Almôndegas se formou no Rio Grande do Sul. Não era um prato da culinária, mas se apreciava igual. Estourou com Vento Negro, uma bela canção. Bela mesmo: a letra, composta por Fogaça, era etérea, romântica, universal e pujante. A melodia seguia os passos da letra: lembrava um campeiro cantando ao léu a quem quisesse ouvir. Eu só fui conhecer os Almôndegas lá pelos dez anos de idade, quando assistia a abertura de um programa de variedades chamado Portovisão, da saudosa TV Difusora (atual Bandeirantes). Lá estava Vento Negro, lá estava minha música gaudéria preferida.


Os Almôndegas fizeram sucesso aqui no Sul, estouraram nacionalmente e meteoricamente acabaram. Nem deu tempo da gauchada se orgulhar e só os mais de quarenta ainda se lembram! Fui à luta: tentei ir atrás das músicas do grupo (dos cinco LPs lançados), mas a busca foi difícil.


Nos anos oitenta foi mais fácil fechar minha coleção do Jethro Tull, uma banda de rock progressivo inglês, do que encontrar um LP dos Almôndegas. Simplesmente não achava. Desisti! Então, na virada do milênio, voltaram as recordações do Fogaça, Kleiton, Kledir & cia e, via Internet, encontrei: letras, músicas, comentários, referências, tudo!


Quanto à Vento Negro, recomendo! São estas pequenas lembranças que enchem nossas vidas de alegria. Atente para a letra e saberão do que estou falando!






Vento Negro

Composição: José Alberto Fogaça


Onde a terra começar
Vento Negro gente eu sou
Onde a terra terminar
Vento negro eu sou

Quem me ouve vai contar
Quero luta, guerra não
Erguer bandeira sem matar
Vento Negro é furacão

Tua vida o tempo
A trilha o sol
Um vento forte se erguerá
Arrastando o que houver no chão

Vento negro, campo afora
Vai correr
Quem vai embora tem que saber
É viração

Dos montes, vales que venci
No coração da mata virgem
Meu canto, eu sei, há de se ouvir
Em todo o meu país

Não creio em paz sem divisão
De tanto amor que eu espalhei
Em cada céu em cada chão
Minha alma lá deixei



Fica aí a capa do primeiro disco dos Almôndegas.
E, se tu gostaste da foto do pago, lá em riba, saiba que o fotógrafo se chama Mário Afonso, que tem uma galeria no Flickr.


segunda-feira, 24 de março de 2008

KITS REVELL


por Quatermass



Natal de 1972. Período da ditadura militar. Cronologicamente, era quase pré-história, beirando o Período Cretáceo: sem Internet, DVDs, microcomputadores, videogames, etc. Tempos do “milagre econômico” e assistia-se os antigos seriados, filmes, novelas e desenhos ainda em preto-e-branco.


A vida era muito menos complicada, ao menos para mim. Tinha nove anos e minhas ambições eram mais singelas. Não ansiava com a democracia e questões sócio- político-ideológicas. Meu objetivo era outro e o alvo já estava delineado: o Bazar e Papelaria Louvre, na Av. Protásio Alves, defronte o Cinema Ritz.


Dentro estava meu objeto de desejo: uma Fortaleza Voadora B-17, na escala 1/72 (setenta e duas vezes menor que a original), exposta em meio a uma imensa prateleira cheia de caixas de kits plásticos para montar da marca Revell americana (mas injetada no Brasil pela Arno Kikoler).



A tampa da caixa era uma obra de arte, reprodução de uma pintura à óleo da Memphis Belle. E lá eu sonhava com aquele modelo de avião. Sempre que possível passava na loja e enchia o saco dos vendedores pedindo para olhar a caixa. Anotei tudo: modelo, fabricante, preço, mapa com a localização dentro do estabelecimento e endereço. Pronto! Agora, a vítima: meu pai.


Todo mundo tem suas manias e ele as dele: era sisudo e quietão, não prestava contas de absolutamente nada do que fazia, mas respeitava sua intimidade. Sempre curioso, dificilmente perguntava algo, ao invés, reparava. Sempre dava o presente certo sem que as pessoas pedissem. Mas eu era um guri chato que fazia questão de dizer em alto e bom tom que não gostava de ganhar cueca, meia e camiseta, e sim os modelos plásticos. Luta inglória: a parentada não tava nem aí e viviam me dando roupas!



Mas meu velho era diferente! Sabia do que eu gostava e mesmo indiretamente me deu força junto ao hobby. Certa vez, num aniversário de um daqueles “amiguinhos” do colégio, comprou um caça Mustang P-51 para eu dar de presente. Gozado, mas na hora, o raio do kit não queria sair da minha mão! Foi como se tivesse cola nos dedos!


Mas, voltando ao Natal, comecei a dar indiretas a ele e nada de retorno. Ouvia quieto. Já estava achando que iria ganhar roupas. Mas aguardei, pois silêncio não significa negação (às vezes é uma maneira mais inteligente de concordar). E na noite de Natal, lá tava eu, minha irmã, minhas primas, tias, etc, aguardando o Papai Noel trazer os presentes.


Óbvio que eu sabia que era mera tradição, mas como na sala ainda havia quem acreditasse, que continuasse o show! Papai Noel chegou, foi embora e deixou presentes. Oh!! Quanta surpresa! A gurizada toda se atirou para pegar o seu e eu já estava esperando um pacote todo molenga para segurar, quando vi uma caixa diferente: era retangular e estava propositalmente colocada num canto separada das demais.


Bastou fitar uma única vez para reconhecer o bendito kit. Que emoção! Ao abrir a caixa, não via a hora do pessoal jantar a ceia e se mandar para que me liberassem a mesa. Feito isso, comecei a montagem que durou a noite inteira (foi a primeira vez que virei a madrugada, a primeira de muitas).


De manhã, era o feliz detentor da mais bela B-17 do mundo: sem pintura, mas cheia de cola escorrida, marcas de dedos, decais tortos e tudo, mas absolutamente tudo colado (hélices, rodas e tudo mais que deveria se mover). A B-17 ainda durou alguns meses, antes do famigerado “dia da faxina” acabar com ela de vez. Ainda assim ficou a bonita recordação: do kit e a do meu velho.


Mas fica também uma lição: presente não é o mais caro, não é o raro nem o único; ao contrário, pode ser o simples, o trivial. Presente, principalmente, não é a coisa em sí, mas o ato espontâneo, a sensibilidade. É assim que perduram o amor, as amizades e o sentimento do filho para com seu pai.


quinta-feira, 20 de março de 2008

RELIGARE



Desejamos a todos uma sexta-feira santa de paz, harmonia e união. E uma feliz Páscoa!


Reconectar-se, tornar-se parte do todo, sentir-se mais do que uma partícula de alma, abençoado pelo universo e dele fazer parte, no sentido de estar unificado a tudo que existe, e até com o que vai existir. Esse é o sentido primordial da idéia de religião.

Revista das Religiões, n° 1, trecho do editorial.


CAÇADA AO OUTUBRO VERMELHO

por Quatermass


Até o momento é a melhor adaptação da obra de Tom Clancy para o cinema. Não por mérito
dos roteiristas, do diretor ou da parte técnica. Este filme possui uma mística própria: foi atuado por Sean Connery. Não é um filme de John McTiernan e sim um filme COM SEAN CONNERY. A história é muito boa, até Alec Baldwin está menos canastrão e confesso, foi o melhor Jack Ryan da série: improvisado, humano e passional.



E o enredo? Em sua primeira missão de treinamento o submarino Outubro Vermelho transforma-se em uma nave renegada quando seus oficiais, comandados pelo Capitão Marko Ramius (Sean Connery) se amotinam e resolvem desertar para a América. Mas isto se passa sem o conhecimento da tripulação. Ciente do ocorrido a URSS emprega todos os meiosdisponíveis na tentativa de destruir o submarino. Para os EUA é um problema soviético, porém, de conseqüências imprevisíveis. Somente o agente Jack Ryan desconfia as verdadeiras intenções de Ramius e tenta estabelecer contato.


O diretor transformou o interior do submarino numa discoteca, com luzes e design criativos (mas duvido que um verdadeiro submarino russo da Classe Typhoon realmente seja tão psicodélico). A música de Basil Poledouris é vigorosa e insinuante, um ótimo complemento às cenas de ação. Mas mesmo assim não é um dos melhores filmes de submarinos. Falta alma à obra e quando digo isso é no sentido e que não há cenas realmente memoráveis, um momento que imortaliza a obra, um toque de gênio, algo pessoal do diretor. Faltou um Akira Kurosawa, um Robert Wise, um George Pal, um Joseph Pevney, um William Cameron Menzies, diretores tarimbados, que deixaram sua marca nos filmes, algo pelo qual serão sempre lembrados. Uma pena. Confesso que de todos os posts que já escrevi, me entristeci ao verificar que o reconhecimento de Caçada ao Outubro Vermelho se deva exclusivamente à atuação de um grande ator, mas já com ares de cansado.



quarta-feira, 19 de março de 2008

Assumindo o saudosismo!

Parece que fez sucesso a postagem sobre o Super-homem do Espaço. Então, assumindo o saudosismo, vão aí dois desenhos animados das antigas, dublados, por cortesia de algumas almas caridosas que disponibilizam essas preciosidades no You Tube: Brasinhas do Espaço (a pedido) e Os Impossíveis. Já falamos algo sobre as músicas dos desenhos antigos, mas... e as dublagens de antigamente? Que saudade, hein?



terça-feira, 18 de março de 2008

Coleção Vaga-Lume


Somente hoje descobri que a Coleção Vaga-Lume está completando 35 anos e a Editora Ática lança uma caixa contendo dez daqueles livros, verdadeiros clássicos da literatura infanto-juvenil dos anos 70/80/90, genuinamente brasileiros. Quem não leu pelo menos um livro dessa coleção? Você leu apenas um, só porque foi obrigado pela professora? Normal. Li uns dois ou três dessa maneira, mas depois li outros por gosto mesmo. Bons livros. Dentre os da minha época (final dos anos 70 e início dos 80), cito os meus preferidos: O Escaravelho do Diabo, Spharion e Menino de Asas. Deixo aqui o link para informações sobre o box da Coleção Vaga-Lume. Parece um presente bem interessante para os filhos. Mas, bem que a Ática (atualmente pertencente ao grupo Abril) poderia ter dado desconto maior no conjunto dos livros... Para quem quiser ler mais sobre a coleção, recomendo esse artigo, do Gustavo Rios, no site Overmundo, do qual extraio a passagem abaixo:


"Por mais que alguns ainda defendam a tese de que este tipo de literatura é menor, creio que não há melhor forma de iniciar alguém no hábito da leitura. Aliado aos quadrinhos, que são outra fonte de inspiração; uma arte em si. Não se trata de defender um país somente "...feito de homens e livros", como diria o Monteiro Lobato. Um monte de garotos e garotas enfileirados, com dicionários nas mãos e uma puta vontade de bater uma bolinha não seria lá meu ideal de felicidade. E sei que o Lobato também tinha um grande respeito por eles e elas. Só que o excesso leva a alienação. Seja ele a sistemática leitura de Dostoievsky ou a tal bolinha no fim da tarde. Crianças precisam de referências fantasiosas, não ficarem enfiadas em igrejas remoendo o pecado e aquilo que chamam por aí de expiação; necessitam de livros fundamentais, mas não moralizantes - o tipo de moral parcial e limitadora."

Arthur C. Clarke (1917 - 2008)



Esta é uma daquelas postagens que não gosto de fazer, mas... é a vida. Reproduzo alguns trechos da matéria do G1 enviada pela Fê:

Morreu no Sri Lanka, na madrugada desta quarta-feira (terça-feira, 18, no horário de Brasília), o escritor de ficção científica Arthur C. Clarke, autor de "2001: uma odisséia no espaço". A informação foi confirmada pelo agente do escritor. Clarke estava com 90 anos e morreu em decorrência de problemas respiratórios, afirmou o agente Rohan de Silva.

O autor britânico escreveu mais de 80 livros, além de 500 artigos e contos, incluindo "A sentinela", que inspirou de "2001: uma odisséia no espaço", adaptado para o cinema por Stanley Kubrick.

Na década de 1940 ele previu que o homem chegaria à Lua até o ano 2000, idéia que foi descartada como bobagem por especialistas. Quando Neil Armstrong pisou na Lua, em 1969, os EUA disseram que Clarke "forneceu a motivação intelectual essencial que nos levou à Lua".




Em dezembro de 2007, o escritor listou três desejos para o seu aniversário de 90 anos: que o mundo adotasse fontes de energia limpas, que a paz fosse estabelecida no lugar onde ele vivia, o Sri Lanka, e que fossem apresentadas evidências de seres extra-terrestres.


Fica o registro e nossa homenagem a este grande escritor, com a abertura de 2001 - Uma Odisséia No Espaço.


domingo, 16 de março de 2008

WILLIAM CAMERON MENZIES

por Quatermass



Quem é William Cameron Menzies? Este grande diretor é praticamente desconhecido no Brasil. Não tem nenhum parentesco com James Cameron, que adotou o sobrenome em homenagem ao mestre. No entanto, já citei diversas vezes o nome em outros posts e não posso esperar que o internauta identifique um cineasta falecido há cinqüenta anos (1896-1957). Puxa vida! Cinqüenta anos! Afinal o que ele fez?


Antes de mais nada, o cinema não surgiu na metade dos anos setenta com Steven Spielberg e George Lucas. O mérito destes dois diretores foi justamente de terem resgatado dois gêneros relegados por Hollywood durante um bom tempo: os de aventura e ficção científica.


Os anos sessenta foram profundamente devastadores para estes gêneros na tela grande, ao contrário dos seriados televisivos, que sofriam surtos de genialidade. A América enfrentava várias guerras internas além do Vietnã: a da contracultura, as manifestações estudantis contra a guerra e os conflitos raciais, ou seja, durante toda uma década o país estava de cabeça para baixo. Os temas de ficção e aventura eram considerados escapistas e não eram bem vistos. O momento era de contestação.


Apesar da produção de filmes de guerra no início da década (subliminarmente em apoio ao conflito no sudeste asiático) ao final estes mesmos filmes eram usados com mensagens opostas (Kelly’s Heroes e MASH). Exceções eram filmadas, mas não no mesmo ritmo dos anos cinqüenta, tais como O Planeta dos Macacos e 2001, ambos de 1968. Aos poucos, com a reacomodação da sociedade americana e com o fim do conflito lá fora, Hollywood pôde respirar escapismo novamente. Daí vem Soylent Green (1973), Westworld (1973), Inferno na Torre (1975), Tubarão (1975), Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977), Guerra nas Estrelas (1977)...


E antes disso havia ficção científica? Resposta: havia e como! Não nasci naquela época, meu conhecimento deu-se através do resgate de fragmentos nestes quarenta e quatro anos. Foi um trabalho de pesquisa involuntário, pois assistia nas sessões da tarde da vida filmes de rara inocência, de rara genialidade, que nunca mais foram feitos novamente.


Sim, pois a América dos anos setenta não era mais a América dos anos trinta, quarenta e cinqüenta. Ao mesmo tempo que se questionava seriamente o tipo de sociedade que existia nos EUA durante os anos sessenta, passado o vendaval, nunca mais Hollywood produziu filmes, seja de que gênero fosse, com padrão de inteligência, cultura e instigação como feito antes.


Filmes conceituais, de diretor, pouquíssimos; experiências como Kiss me Deadly (1955), nunca mais. De agora em diante, o público a ser dirigido não seria mais o adulto, a prioridade seria o infanto-juvenil e a mensagem a mais simples, ingênua e desprovida de qualquer senso crítico. A contestação é o mal a ser evitado para não mais ser repetido. Por lei, os negros são inseridos em filmes e seriados e taí a contribuição de Hollywood.


E a contribuição do diretor referido lá em cima? William Cameron Menzies atuou como designer, escritor, diretor de arte, produtor e diretor. Iniciou sua prolífica carreira em 1918 como designer de produção. Consagrou-se principalmente por dois filmes: O Mundo do Amanhã (1936) e Invasores de Marte (1953). Graças ao Thintosecco assisti aos dois trabalhos e posso dizer que são obras-primas. Tenho um queda principalmente por Invasores de Marte, em que se denota o conhecimento pela fotografia, ângulos, o trabalho no roteiro, em suma, é como se toda a sua capacidade e conhecimentos técnicos adquiridos por mais de trinta anos estivessem concentrados num único filme.



A história: um menino é a única testemunha do pouso de uma nave espacial atrás de uma colina. Ao tentar relatar o que vira ninguém lhe dá crédito. No entanto, todos que sobem na colina desaparecem e posteriormente retornam diferentes. Foram abduzidos e através de um pequeno dispositivo em sua nuca são comandados pelos alienígenas.


Incrível, este filme foi feito quarenta anos antes de Arquivo X. Quantas idéias Chris Carter não deve ter tirado desta obra! Mais, é visto sob a ótica da criança e nos lugares por onde passa, os ambientes são excepcionalmente altos: é como se víssemos coisas e seres de baixo para cima, numa empatia da criança para o expectador. É como um pesadelo infantil. O desespero de ver sua mãe ser acompanhada pelo pai já abduzido até a colina e a trágica conseqüência parecem tiradas de uma obra de Hitchcock.


Filmes assim não são mais feitos. Em 1986, Tobe Hooper fez uma refilmagem de Invasores de Marte, mas foi enxovalhado pela crítica e com razão: era inferior em todos os aspectos, pois era muito convencional. De tempos em tempos surge um diretor mais conceitual, só que há cinqüenta anos esta exceção era regra.



sábado, 15 de março de 2008

SUPER-HOMEM DO ESPAÇO

por Quatermass


Como mudaram os desenhos animados de quarenta anos para cá! Hoje em dia são politicamente corretos, abominam a morte e a violência, e tentam pregar mensagens saudáveis. Mas afinal de contas será que eu estou errado? Fui criado vendo Fantomas, Príncipe Planeta e... Super-Homem do Espaço! Às vezes sinto-me um eremita ou um velho esquecido em um asilo: lembro-me que estes desenhos existiram, mas ninguém mais comenta... é como se fossem fruto da minha imaginação!

Será porque eram japoneses? Será porque a maioria era em preto-e-branco? Ou será porque apresentavam justamente aquilo que não mais é mostrado atualmente? Possuíam doses exageradas de adrenalina. Para muitos, um único episódio de Super-Homem do Espaço exibia mais morte e destruição que um filme do Rambo. Exibia! É verdade! Mas havia também uma mística nestes desenhos orientais que não chocavam como deveriam. A morte, a perda, a destruição faziam parte do fatalismo. Não eram gratuitos, ao contrário, portavam a carga de dramaticidade que complementava a história. Daí a diferença!

Super-Homem do Espaço (Yusei Kamen/1966) conta a história da guerra entre a Terra e o Planeta Pineron. Humanóides, os pinerons inclusive conviviam em nosso planeta, dentre estes, Peter, filho do Dr. Robert Johansen e uma pineron. Peter é também o Super-Homem do Espaço, que luta para proteger a Terra dos constantes ataques, e por aí vai... Foi exibido no início dos anos setenta pela TV Tupi e nunca mais foi reprisado. Uma pena!

Às vezes, quando me lembro destes e outros seriados japoneses, me dá um aperto no coração em saber que a não ser por alguns fragmentos na Internet, dificilmente sairão algum dia em DVD no Brasil! Será que não estou exagerando? Não! Basta citar outro exemplo: Star Blazer ou Patrulha Estelar, exibido pela última vez pela TV Manchete em 1983/1984. Três temporadas (1974, 1979 e 1981) que nunca mais foram reprisadas! Já faz 24 anos!!! Quase um quarto de século! É um bom tempo... Ostracismo também é censura! SEJAMOS SAUDOSISTAS ENTÃO!

Em tempo: para mais informações sobre o Super-homem do Espaço, a sugestão é conferir o site Retrô TV (
retrotv.uol.com.br), neste link

FREE TIBET



Texto extraído do blog aoencontrodesi.blogspot.com:


Salve a vida, salve o amor e o respeito... Salvar por amor e pelo bem de todos os seres! Viver as virtudes, o bem, a paz e a compaixão! Aqui estou pela região Dharamsala-Kangra-Mandi-Manali, ainda percorrendo o norte da Índia, perto da cordilheira dos Himalayas. Está difícil deixar essas sagradas e abençoadas montanhas. E também fluo nessa conexão com o budismo e o encantador povo tibetano.

O apelo dos ex-prisioneiros, dos estudantes, daqueles que fugiram de sua terra natal agora dominada pelos chineses, tendo seus rios sendo poluídos e devastada pelo progresso. Nada muito diferente do que se espalha pelo mundo.


Desde de 1959 a situação crítica no Tibet fez o Dalai Lama retirar-se de sua terra natal para receber exílio na Índia, muitos tibetanos o seguiram atravessando as extensas montanhas da cordilheira dos Himalayas. A pé e a cavalo, muitos ficaram no caminho ou morreram em virtude do frio. Outros se abrigaram também em outras terras, nos povos vizinhos como Nepal, Bhutao, entre outros.
Reconstruindo novamente e com toda a paciencia... A tortura e o massacre que sofreram, se prolonga até os dias de hoje. Eu estive com muitos monges e monjas que viveram coisas inimagináveis e estão ali mostrando em seus corpos. Conheci uma monja que tem seus braços sólidos com pouco movimento, outro monge que vive à base de medicamentos para aliviar a dor física e muitos outros com diversos outros problemas devido ao tempo nas prisões, em torturas ou mesmo na fuga do Tibet para a Índia. E muitas crianças sem pais que são cuidadas pelas escolas nos vilarejos tibetanos. (...)

É muito para contar o que vejo aqui, mas enfim... Em todos eles, nenhuma raiva, nenhum sentimento ruim... Aprendo com eles a ver tanta dor e sofrimento e ainda sentir compaixão por aquele que lhe faz tanto mal. É de uma beleza sem par estar na presença desse povo pacifico e compassivo, serenamente fazendo seus mantras pelo bem de todos os seres. Irradiando perdão! Vivendo sua vida na luz, na paz e somente emanando gentileza. (...)

O povo tibetano às vezes é aquele povo que não está nem lá no Tibet e nem cá na Índia. Os jovens às vezes perdidos sem saber, a terra pacífica do Tibet deu lugar a agitada e populosa terra indiana. E o Tibet hoje tomado pela China que continua a massacrar o povo tibetano como se fosse nada, poluindo os rios e superpopulando mais ainda sem o mero respeito a cultura e conhecimento. (...)

Façamos nossa parte por um mundo melhor, mais digno e humano, com respeito ao proximo e a vida! Se quer fazer algo pelo Tibet, comece por boicotar os produtos chineses, nao compre nada mais que venha da China e vamos fazer uma "guerra" pacífica, pelo bem de todos os seres. Chega de maldade com os nossos irmãos, quer seja Tibet, quer seja África ou Brasil, onde quer que seja podemos mudar o mundo de dentro a fora. Que assim seja!

Disse tudo. Alguém pensa o contrário?

Links:


Blog da Ayam

Revisa Horizonte

www.studentsforafreetibet.org



sexta-feira, 14 de março de 2008

Aqueles quadrinhos de terror...


Como já foi diferente o nosso mercado de quadrinhos! Comentei sobre isso hoje com o prof. Quatermass e depois me vieram algumas lembranças. Me lembro, por exemplo, de um dos primeiros lugares onde comprei HQ, isso há umas três décadas atrás, que era uma lojinha de bairro - bem afastado do Centro, por sinal - mas muito bem suprida de gibis. Lançamentos da Abril, Bloch, RGE, EBAL - podem babar, saudosistas! - e outras editoras que não lembro ou não reparava na época. Que diferença na distribuição das revistas, não? Mas ali, na "porta vermelha" (que era o nome que a gurizada usava para se referir a esse bazar, já que ninguém guardou o nome) havia uma estante que dava um medinho na gente, um espaço proibido pra nós pequeninos: o cantinho das revistas de terror. Dos títulos, guardei na mente apenas a Kripta, até porque também tinha comercial na tevê (incrível, não?). Mas tinha muito mais.


Hoje sei que aqueles títulos, em sua maioria, eram produzidos por artistas nacionais. Já nos anos 80 peguei a onda dos quadrinhos nacionais de terror - que começou lá pelo final dos anos 50 - já no final. Colecionei as revistas da editora D-Arte e também da Press Editorial, que talvez tenham sido as últimas editoras a investir no gênero. Mas, como fã, adquiri muitas revistas antigas, inclusive de editoras que nos anos 80 já não mais existiam. Digo pra vocês: os quadrinhistas brasileiros produziram muito material - e de muito boa qualidade - nessa área, que, infelizmente, sempre foi bastante discriminada. Hoje, os gibis de terror - especialmente os nacionais - pertencem mais ao passado que ao presente de nossas bancas e livrarias. Mas, para resgatar essa memória, existe um site bem interessante, o Nostalgia do Terror, que vai, para quem ainda não conhece, especialmente recomendado.

quinta-feira, 13 de março de 2008

O VÔO DA FÊNIX

por Quatermass

Se em Náufrago Tom Hanks construiu uma embarcação, dotada de uma improvisada vela, que diria de construir um avião a partir dos destroços de outro? Esta é a idéia central de O Vôo da Fênix (The Flight of the Phoenix- 1965). Durante uma viagem sobre deserto, um avião de transporte trazendo uma coleção de sujeitos irredutíveis cai em razão de uma tempestade de areia. Os sobreviventes têm diante de si um dilema: a divisão de liderança. Vários apresentam diferentes opções aos demais, mas que aos poucos vão caindo na real. Sobram duas alternativas: ficar e esperar ou construir um novo avião, juntando parte da asa e fuselagem com a outra asa. Mas não é uma opção fácil! Há conflito entre dois dos protagonistas: o Capitão Frank Towns (James Stewart) e Heinrich Dorfmann (Hardy Kruger). São líderes natos, mas de convivência difícil e esta disputa perdura por todo o filme. O co-piloto, Lew Moran (Sir Richard Attenborough), é o intermediador entre os dois e destes com o grupo, representa o bom senso!


Em momentos de crise não bastam lideranças, deve haver clareza de idéias e determinação de alguns. E, por linhas tortas é construído o avião. É um grande filme, baseado em conflito, conflito e mais conflito. O clímax: concluída a máquina voadora, é revelada a verdadeira profissão de Dorfmann e o tipo de aparelho que foi construído pelos sobreviventes, no qual depositaram todas as suas esperanças. Uma comparação é inevitável: se em náufrago a loucura da solidão instigou o protagonista a construir uma embarcação de troncos e vela metálica; em O Vôo da Fênix, a loucura decorrente do orgulho e não o calor inclemente do deserto foi o principal obstáculo. A mensagem do filme de Robert Aldrich é clara: o homem é mais perigoso que o meio, pois ao mesmo tempo em que pode superar adversidades, pode também inviabilizar a própria sobrevivência. Chega-se a conclusão que, superando os prognósticos, foi Lew Moran quem realmente salvou o grupo. Mesmo aparentando inferioridade (em razão da bebida) ante os dois principais antagonistas, foi o único dotado da verdadeira lucidez durante a crise e o principal motivador do grupo. A superação começa assim: pelo auto-conhecimento.


terça-feira, 11 de março de 2008

A VINGANÇA É UM PRATO QUE SE COME FRIO


 
por Quatermass




Atendendo a um chamado de socorro, a Enterprise segue para a estação espacial Regula I. A meio caminho depara-se com outra astronave da Federação, a Reliant. Aproximando-se uma da outra, Kirk, fica intrigado com sua presença e o silêncio nas comunicações e ordena a seu Oficial de Ciências escaneá-la.
  



Não sabe ele que a Reliant fora capturada por seu arqui-inimigo, Khan Noonien Singh, e que pretende agora ir à desforra pelos quinze anos que ficara desterrado em um planeta distante (baseado no episódio Sementes do Espaço, de 1967). Na ponte da Reliant, Khan (magistralmente interpretado por Ricardo Montalban) deleita-se diante da tela principal, contemplando a nave de seu principal desafeto. Não esconde a satisfação de dar-lhe o troco.






Segue então
o diálogo com seu braço direito Joachim Weiss (Judson Earney Scott). WEISS: “Requerem comunicação senhor! KHAN: Que comam estática! WEISS: “Seus escudos continuam abaixados! KHAN: É claro! Somos uma grande frota feliz! Ah, Kirk, meu velho amigo! Você conhece o provérbio Klingon que diz que a vingança é um prato que se come frio? E é muito frio... no espaço!”
 






Este é um dos exemplos do porquê de Jornada nas Estrelas II – A Ira de Kha
n (1982) ser o melhor filme dos dez longas produzidos. Dirigido e escrito por Nicholas Meyer, o roteiro dá um show em ironias e sarcasmo. Este diretor também escreveu e dirigiu Um Século em 43 Minutos (Time After Time - 1979) e Jornada nas Estrelas VI – A Terra Desconhecida (1991), o segundo melhor da série e, indiscutivelmente, com um dos melhores vilões já criados, o famigerado General Chang (atuação excepcional de Christopher Plummer).

 




Mas o que chama a atenção (e o objetivo deste post) não é o filme ou os filmes de Nicholas Meyer (cujo trabalho será comentado num futuro não muito distante), e sim o ditado que escreveu e que pegou. Este saiu do universo Klingon e foi parar no cotidiano. Até em Kill Bill consta, mais por homenagem de Quentin Tarantino que, por sinal, de tanto fazer homenagens, um dia também deve ser lembrado!

 

Analisando objetivamente o provérbio é de se questionar a validade de se manter por tanto tempo tanta raiva, tanto rancor, a menos que esta seja a única razão de viver. Mensagens, pensamentos e idéias assim destrutivas são perigosamente vazias, pois invocam também à resignação, a permanência num plano inferior, a não superação. Prefiro ignorar a mesquinharia, deixando-a para seus titulares e dedicar atenção aos filhos. Mas não confunda com descuido nem leviandade.

 

Manter distância não significa covardia e sim o de colocar cada pessoa no seu devido lugar. Não sou altruísta nem hipócrita, todos nós já fomos, somos ou seremos Khan um dia, nem que seja num breve surto. A questão é saber quais são os limites.



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