terça-feira, 19 de abril de 2016

A INCRÍVEL SAGA DOS ÍNDIOS TABAJARAS




por Thintosecco



Ao iniciar a leitura deste post, você deve pensar que estou de brincadeira, que quero fazer uma graça, ou até, quem sabe, alguma ironia.  Mas não é nada disso. Esse post contém, sim, uma crítica, mas sobretudo é uma homenagem.


Índios Tabajaras (ou Los Indios Tabajaras, como ficaram conhecidos no exterior) é o nome artístico de uma dupla de músicos de sucesso internacional, mais especialmente durante os anos 60, cuja trajetória é cheia de detalhes interessantes. Eles eram, de fato, índios; realmente da etnia tabajara e muitíssimo brasileiros.  


Ao conhecer a história dessa dupla, possivelmente te ocorrerá o seguinte pensamento: isso é demais para ser verdade !  Agora, se você pensa como eu - que creio que a realidade às vezes (muitas vezes) é mais impressionante que ficção - então está preparado para conhecê-la !









Para quem não conhece a fantástica história dos Índios Tabajaras ela poderá, à primeira vista, parecer inverídica. Principalmente considerando-se de onde vieram - são índios brasileiros autênticos, da raça tupi-tabajara, nascidos na remota e agreste serra de Ibiapaba, dentro do então isolado município cearense de Tianguá, na divisa com o Piauí - e tendo alcançando, no chamado mundo civilizado, o que alcançaram. 


Na língua tupi, receberam os nomes de Muçaperê e Erundi, que significam O Terceiro e O Quarto, pois estavam nessa ordem de nascimento dos filhos do cacique Ubajara, ou Senhor das Águas, ao todo trinta e quatro irmãos.

(Trecho extraído de artigo publicado no Portal Luís Nassif)




Em 1933, a família migrou a pé rumo ao Rio de Janeiro. A caminhada durou cerca de três anos nos quais a dupla entrou em contato com cantadores e violeiros das regiões pelas quais passaram.
 

Chegando ao Rio de Janeiro, por interferência do tenente Hildebrando Moreira Lima, registram-se com novos nomes, Antenor e Natalício. Em torno de 1945, fizeram uma primeira apresentação na Rádio Cruzeiro do Sul do Rio de Janeiro utilizando o nome de Índios Tabajaras.


(extraído do site Dicionário da MPB Cravo Albin)








Resumindo a história e pegando algo de outras fontes: Muçaperê e Erundi viviam em uma tribo isolada, no interior do Ceará. Após serem "descobertos" por uma expedição militar - ocasião em que lhes foi dito que cantavam bem - iniciaram uma jornada a pé até o Rio de Janeiro. No caminho, conheceram e aprenderam a tocar o  violão, instrumento que viriam a dominar.

 

Passaram anos de dificuldades no Rio e, assim que ganharam algum reconhecimento como músicos, um empresário os levou para Buenos Aires.



Foi o inicio de uma trajetória de sucesso nos países de língua espanhola da  América Latina, interpretando músicas populares em belas versões instrumentais.  Ao longo de anos, gravaram muitos discos e realizaram inúmeras apresentações. Ignorados no Brasil, lá fora ganharam  fama "Los Indios Tabajaras", como eram chamados.


Porém, o mais impressionante estava por vir.
 
 
Chegam à América do Norte, e gravam um LP nos Estados Unidos, "Sweet and Savage", sem muita repercussão no início. E no México aparecem num programa apresentado pelo então jovam ator Ricardo Montalban, ocasião de um episódio que daria novo impulso em suas carreiras.


CuriosidadeO ator Ricardo Montalban - personagem importante na história dos Índios Tabajaras -  ficou muito conhecido no Brasil pelo papel de "Sr. Roarke" no seriado "A Ilha da Fantasia".  Também foi o vilão Khan em Jornada nas Estrelas, série clássica, e no filme "Star Trek II - A Ira de Khan".







O episódio: Querendo referir-se ao fato de que tocavam apenas "de ouvido", Montalban chamou-os de "analfabetos musicais".  O comentário incomodou os irmãos, ao ponto de decidirem estudar música a fundo.


Durante alguns anos, dedicam-se ao estudo da música erudita, inclusive com a ajuda de maestros, e Natalício (Nato Lima) adapta seu violão para alcançar notas mais altas e, assim, poder tocar peças feitas para piano. Adaptam obras de  Villa-Lobos, Tchaikovsky, Sibelius, Tárrega, Chopin e outros.






Tornam-se músicos respeitados e apreciados no mundo todo. Além da América Latina, apresentam-se nos Estados Unidos, Europa, Japão e outros países asiáticos. Curiosidade: o single de seu maior sucesso, Maria Elena, vendeu nos EUA, no ano de 1963, mais cópias que o primeiro álbum de uma certa banda de rock, então novidade: os Beatles.


Nada mau para quem veio de uma tribo indígena, sequer sabendo falar o português. 
 
 
Nato Lima viveu seus últimos anos em Nova Iorque, sendo admirado e respeitado por  artistas do porte de um Carlos Santana, por exemplo. Porém, no Brasil, seu país natal, os Índios Tabajars são quase que desconhecidos.








Esse post é uma homenagem aos índios brasileiros, no dia que lhes foi designado. Índios brasileiros que, não raro, são menosprezados e esquecidos.





  

sábado, 9 de abril de 2016

O REPOUSO FINAL DE CLYDE BRUCKMANN




por Quatermass



(Publicado originalmente em 23.06.2008)


Arquivo X foi um grande seriado de ficção científica dos anos noventa (1993-2002). Mesclava terror, ficção, suspense, ação, mitologia, humor e empatia. Teve no total nove temporadas, mas nunca foi regular. Para falar a verdade, como fã que sou até hoje, assisto sem traumas as sete primeiras. 


Destas, da primeira à terceira podem ser consideradas clássicas, pela qualidade e criatividade das histórias. Posso dizer com certeza que gosto mais destas pelo processo de construção / identificação dos personagens. 






Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gillian Anderson) são o verdadeiro fenômeno do seriado. O primeiro, por acreditar em esoterismo/ufologia e ter absoluta certeza de suas convicções; a segunda, por tentar. Este aparente antagonismo é o que une os opostos.


Por que aparente? Porque um complementa o outro: o passional e o racional juntos, a teimosia com a lucidez, a amizade acima do amor. Melhor dizendo: há o clima de amor entre os dois protagonistas, permeado por um manto de amizade. A alternação entre episódios/situações com monstros-da-semana e ETs era um bom complemento. 


Mas, a partir da oitava e nona temporadas, David Duchovny (Mulder) resolveu engrossar suas exigências com os produtores, a tal ponto de ficar fora da maioria dos episódios finais. Como resultado, também deixaram Scully de escanteio e inseriram dois novos personagens, dois novos protagonistas: o agente do FBI John Dogget (Robert Patrick) e Monica Reyes (Annabeth Gish)


Aconteceu o desastre: saiu o cara que acreditava, bem como sua parceira que queria acreditar, e colocaram um que não acreditava e outra que nem tentava. Mataram a mitologia, pois não havia roteiro que salvasse dois personagens tão inexpressivos. Resultado: a série acabou.







Mas voltando ao início, X Files já era cult na terceira temporada e é de um episódio em especial que passo a analisar brevemente. O Repouso Final de Clyde Bruckmann senão é o melhor é um dos melhores episódios. É extremamente inteligente, irônico e sarcástico. 






Clyde Bruckmann (Peter Boyle), um bom velhinho corretor de seguros, possuía um dom especial: o de poder prever a morte da pessoa que estava a sua frente. Obcecado pela prematura morte de Buddy Holly (um pioneiro do rock’n'roll) num acidente em fins dos anos cinquenta, passou a desenvolver inadvertidamente esta capacidade.


Até aí tudo bem, mas na cidade também está à solta um assassino serial de videntes. O sujeito procura um em especial: o capaz de identificá-lo por seus crimes. 






Clyde é localizado por Mulder e Scully e fica sob custódia dos dois em um hotel, e qual não é a surpresa quando um de seus empregados é o próprio criminoso? Santa coincidência Batman! Mas o episódio possui muito mais méritos: Peter Boyle está impagável como o simpático velhinho e sua interação com Scully é espetacular.


Um exemplo disso é quando Scully lhe pergunta como ambos terminarão e ele sarcástica e inocentemente diz: “na cama” (mas não é o que estão pensando)! Clyde Bruckmann já viu sua morte, a ponto de descrevê-la, mas também sabe por intermédio de quem alcançará seu merecido repouso.


É um episódio inesquecível, um dentre tantos desta singular série criada por Chris Carter. Num futuro não muito distante comentarei outros, sem a longa introdução é claro!


(PS: Estava devendo há muito este repost. E com o retorno da série este ano, então... Antes tarde do que nunca ! T.S.)

 

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