por Quatermass
Quanta saudade do início dos anos
oitenta. Na TV aberta passavam vídeos musicais da década anterior... na
televisão de sinal aberto! Grátis, sem precisar pagar por pacote algum, sem
controle remoto; o único custo era a conta de luz. Por sua vez, outro fenômeno
retrógrado sou eu: sempre na contramão. Se no final dos anos setenta a moda era
a discoteca, o ser estranho aqui devorava quadrinhos (da RGE, Ebal, Abril entre
outras), assistia Jornada nas Estrelas e curtia rock progressivo.
O que há de
anormal em quadrinhos? Hoje em dia nada, mas naquela época todos eram “gibis”,
leitura destinada ao público infantil e acusada pelos intelectuais de ser pregação
imperialista. Na música e nos seriados também recaiu tal interpretação
maniqueísta: as letras não teriam conteúdo e os roteiros cumpririam papel de
escapismo. Esta visão, já desgastada, migrou para os fundamentalistas, cujos
discursos têm público cativo.
Ainda assim o então adolescente nerd, de óculos, de
pasta (aqui cumprindo dupla finalidade: além do material escolar, servia para guardar
livros e revistas adquiridos em “sebos”) e irritantemente quieto tinha uma
vidinha aparentemente calma. OBS: o curioso é que se passaram quarenta anos e
continuo igual, só mudei de pastas.
E que vidinha calma em 1978/1979: Jethro
Tull, Emerson Lake & Palmer, Pink Floyd, Queen, Nazareh, Deep Purple,
Rolling Stones entre outros; enquanto a maioria certinha e os pseudointelectuais
curtiam Disco Music e MPB. Se me sentia mal? Nem um pouco, solitário talvez.
Não tinha papo com meus coleguinhas do colégio e vice-versa; as sintonias
estavam em frequências diferentes. O mesmo se verificava quanto a namoros. No
fim, optei por ceder, sob pena de terminar eremita e mal afamado, ou seja, tive
que emburrecer para ficar no mesmo patamar dos dois extremos. Sorte a minha que as coisas evoluem, ainda
que demoradamente, e pude assistir a mudança em ¼ de século.
Mas não se
entusiasmem que não foi tanta assim: ainda é comum confundir Star Trek com Star
Wars, que Nazareth foi a cidade onde Jesus viveu e que agora existem quadrinhos
para adultos, adolescentes e os infantis! Quadrinho é quadrinho, pô!!!
O mesmo não se verificou no Rock: o Rock Progressivo surgiu nos anos sessenta e se foi nos setenta. Uma triste constatação: movimento musical que tinha tudo para revolucionar o Rock ficou dando voltas em sí até cair. Tentou ser uma evolução musical e acabou virando alternativa, descartada em seguida. Assim como a flauta é o símbolo do Jethro Tull, a introdução do sintetizador é a marca do EL&P.
O mesmo não se verificou no Rock: o Rock Progressivo surgiu nos anos sessenta e se foi nos setenta. Uma triste constatação: movimento musical que tinha tudo para revolucionar o Rock ficou dando voltas em sí até cair. Tentou ser uma evolução musical e acabou virando alternativa, descartada em seguida. Assim como a flauta é o símbolo do Jethro Tull, a introdução do sintetizador é a marca do EL&P.
Atualmente existem várias tendências, sendo as principais o metal
pesado e o pop. Por que aconteceu dirá o nobre internauta? Porque surtos de
genialidade são limitados: surgem, brilham e se ofuscam. Seria como um ciclo de
vida, só que em escala menor e da qual pude assistir, ainda que pelo fim.
Em
1970 a banda Emerson, Lake and Palmer lançou o álbum de estreia homônimo. Nele
tem uma faixa que é das minhas favoritas: Lucky Man. Nesta música se faz
presente o som progressivo, a melodia, a letra – pura qualidade – tudo o que
fora negado no Brasil dos anos setenta. Uma minoria (muito pequena mesmo)
curtia EL&P. O bom disso é que não esqueci a música e seu contexto; assim sendo,
quero compartilhar com vocês. Que cara de sorte eu sou!
2 comentários:
Realmente é um privilégio ouvir as bandas citadas. A Música que faziam é o que chamo às vezes de "música de verdade". Não é que as outras sejam "de mentira", mas me refiro a músicas em que o aspecto comercial, embora existente (lógico, vivem disso...) não é predominante.São obras com sentimento. Sinto isso com muita força nos primeiros trabalhos do ELP. Esse primeiro álbum deles é um dos meus preferidos. Baita post.
Me deixa acrescentar mais uma coisa... Achar que Nazareth é "uma cidade onde Jesus viveu" é muito bom! E me lembra outra história. Dizem que o primeiro álbum do Genesis foi um fracasso porque foi parar na seção de discos religiosos das lojas da época!
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