Quem é William Cameron Menzies? Este grande diretor é praticamente desconhecido no Brasil. Não tem nenhum parentesco com James Cameron, que adotou o sobrenome em homenagem ao mestre. No entanto, já citei diversas vezes o nome em outros posts e não posso esperar que o internauta identifique um cineasta falecido há cinqüenta anos (1896-1957). Puxa vida! Cinqüenta anos! Afinal o que ele fez?
Antes de mais nada, o cinema não surgiu na metade dos anos setenta com Steven Spielberg e George Lucas. O mérito destes dois diretores foi justamente de terem resgatado dois gêneros relegados por Hollywood durante um bom tempo: os de aventura e ficção científica.
Os anos sessenta foram profundamente devastadores para estes gêneros na tela grande, ao contrário dos seriados televisivos, que sofriam surtos de genialidade. A América enfrentava várias guerras internas além do Vietnã: a da contracultura, as manifestações estudantis contra a guerra e os conflitos raciais, ou seja, durante toda uma década o país estava de cabeça para baixo. Os temas de ficção e aventura eram considerados escapistas e não eram bem vistos. O momento era de contestação.
Apesar da produção de filmes de guerra no início da década (subliminarmente em apoio ao conflito no sudeste asiático) ao final estes mesmos filmes eram usados com mensagens opostas (Kelly’s Heroes e MASH). Exceções eram filmadas, mas não no mesmo ritmo dos anos cinqüenta, tais como O Planeta dos Macacos e 2001, ambos de 1968. Aos poucos, com a reacomodação da sociedade americana e com o fim do conflito lá fora, Hollywood pôde respirar escapismo novamente. Daí vem Soylent Green (1973), Westworld (1973), Inferno na Torre (1975), Tubarão (1975), Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977), Guerra nas Estrelas (1977)...
E antes disso havia ficção científica? Resposta: havia e como! Não nasci naquela época, meu conhecimento deu-se através do resgate de fragmentos nestes quarenta e quatro anos. Foi um trabalho de pesquisa involuntário, pois assistia nas sessões da tarde da vida filmes de rara inocência, de rara genialidade, que nunca mais foram feitos novamente.
Sim, pois a América dos anos setenta não era mais a América dos anos trinta, quarenta e cinqüenta. Ao mesmo tempo que se questionava seriamente o tipo de sociedade que existia nos EUA durante os anos sessenta, passado o vendaval, nunca mais Hollywood produziu filmes, seja de que gênero fosse, com padrão de inteligência, cultura e instigação como feito antes.
Filmes conceituais, de diretor, pouquíssimos; experiências como Kiss me Deadly (1955), nunca mais. De agora em diante, o público a ser dirigido não seria mais o adulto, a prioridade seria o infanto-juvenil e a mensagem a mais simples, ingênua e desprovida de qualquer senso crítico. A contestação é o mal a ser evitado para não mais ser repetido. Por lei, os negros são inseridos em filmes e seriados e taí a contribuição de Hollywood.
E a contribuição do diretor referido lá em cima? William Cameron Menzies atuou como designer, escritor, diretor de arte, produtor e diretor. Iniciou sua prolífica carreira em 1918 como designer de produção. Consagrou-se principalmente por dois filmes: O Mundo do Amanhã (1936) e Invasores de Marte (1953). Graças ao Thintosecco assisti aos dois trabalhos e posso dizer que são obras-primas. Tenho um queda principalmente por Invasores de Marte, em que se denota o conhecimento pela fotografia, ângulos, o trabalho no roteiro, em suma, é como se toda a sua capacidade e conhecimentos técnicos adquiridos por mais de trinta anos estivessem concentrados num único filme.
A história: um menino é a única testemunha do pouso de uma nave espacial atrás de uma colina. Ao tentar relatar o que vira ninguém lhe dá crédito. No entanto, todos que sobem na colina desaparecem e posteriormente retornam diferentes. Foram abduzidos e através de um pequeno dispositivo em sua nuca são comandados pelos alienígenas.
Incrível, este filme foi feito quarenta anos antes de Arquivo X. Quantas idéias Chris Carter não deve ter tirado desta obra! Mais, é visto sob a ótica da criança e nos lugares por onde passa, os ambientes são excepcionalmente altos: é como se víssemos coisas e seres de baixo para cima, numa empatia da criança para o expectador. É como um pesadelo infantil. O desespero de ver sua mãe ser acompanhada pelo pai já abduzido até a colina e a trágica conseqüência parecem tiradas de uma obra de Hitchcock.
Filmes assim não são mais feitos. Em 1986, Tobe Hooper fez uma refilmagem de Invasores de Marte, mas foi enxovalhado pela crítica e com razão: era inferior em todos os aspectos, pois era muito convencional. De tempos em tempos surge um diretor mais conceitual, só que há cinqüenta anos esta exceção era regra.
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