Antigamente era comum a gente encontrar nas bancas de revistas a versão em quadrinhos do mais recente sucesso de Hollywood. Seria interessante, não fosse a costumeira baixa qualidade do argumento e desenhos daquelas adaptações. Mas hoje em dia ocorre algo curioso: é o cinema que exibe versões de obras originalmente produzidas em quadrinhos. Entretanto, assim como não botávamos fé nos quadrinhos baseados em filmes, desconfiamos dos filmes baseados nos quadrinhos. E se a HQ era muito boa, então aí mesmo que não se acredita no filme!
Mas afinal por quê? Nos anos 80 não sonhávamos em ver em forma de filme as nossas histórias favoritas? Aquelas que os mais velhos e a sociedade em geral considerava meros gibis, mas nós sabíamos que eram muito, muito boas? Histórias de um Frank Miller, Neil Gaiman ou Alan Moore (pra ficar nos mais consagrados)? A tecnologia dos efeitos especiais evoluiu até o ponto das mais fantásticas aventuras dos super-heróis parecerem reais, então não é esta a questão.
O problema é que a indústria, via de regra, procura agradar a um chamado "público médio", ao qual procuram agradar com doses previamente calculadas de ação, humor, romance, etc., buscando produzir um " filme ideal" para o mercado. Obviamente, a tal fórmula ideal é uma ficção e obras produzidas dessa maneira resultam num "arroz sem sal", quando não chegam ao ponto do ridículo ou absurdo. Por exemplo: numa entrevista algum tempo atrás o Neil Gaiman contou que lhe propuseram realizar um filme do Sandman, com o qual a princípio concordou, só que os produtores tinham algumas "pequenas exigências" em relação ao roteiro, entre as quais que o Sandman deveria ter uma namorada e também um arqui-inimigo, que em certo momento da história deveria sequestrar a namorada do Sandman... É por essas e outras que desconfiamos dessas adaptações e não é sem razão que o próprio Alan Moore rejeita as versões de suas obra e por isso seu nome nem aparece nos créditos de Watchmen.
Então tenho receio de assistir Watchmen no cinema. Me pego pensando: "Vou perder tempo e jogar dinheiro fora". Só que há certos momentos em que o cara tem que ser otimista. E há alguns motivos pra isso. O filme está sendo bem recomendado (com alguns pequenos senões, é verdade), por gente que conhece a obra original. Segundo, o diretor Zack Snyder já tem experiência nesse tipo de trabalho, foi o realizador de 300, e dizem ser um nerd de carteirinha. Terceiro, e mais importante: a obra original merece esse tributo!
Mas sobre a genial minissérie em quadrinhos, peço licença para transcrever trechos extraído do artigo sobre o Alan Moore na Wikipedia, especialmente para quem eventualmente ainda não a leu:
"O título é inspirado na frase retirada da Sátira VI do filósofo Juvenal (60-127 AC), quis custodiet ipsos custodes ( “Quem vigia os vigilantes?” ), transpondo a crítica da sociedade romana para um universo no qual combatentes do crime despertam a ira e desconfiança da própria população civil que almejam proteger. (...)
'O enredo se inicia com o mundo à beira de uma guerra nuclear, tendo como pano de fundo o ápice da guerra fria. No universo engendrado por Moore, graças ao super ser conhecido como Dr. Manhatan ( semi-deus fruto de um acidente nuclear e único personagem com poderes sobre humanos, utilizado como arma militar pelo governo americano), os Estados Unidos venceram a Guerra do Vietnã e Richard Nixon sobreviveu ao escândalo Watergate, modificando a Constituição e sendo reeleito duas vezes. A série se estende da década de 30, início do advento dos “combatentes do crime”, ao ano de 1985, no qual a história é inicialmente situada. (...)
'Watchmen expõe ao leitor galeria bizarra e demasiado humana de combatentes do crime, em sua maioria detentores de distúrbios mentais e sexuais, solitários, confusos e aterrorizados quanto à impotência de suas ações frente ao iminente holocausto nuclear. Moore caracteriza seus personagens de forma tão realista e implacável que é praticamente impossível, após a conclusão da série, levar o conceito de "super-herói” novamente a sério.
'A série ganhou vários prêmios Eisner e o mais cultuado prêmio de ficção científica da época, Hugo, até então limitado exclusivamente à literatura. Ao abordar temas habitualmente alheios ao terreno das HQs (...) Moore expandiu os limites da mídia a confins inimagináveis anteriormente, abrindo precedente para os méritos e aberrações ocorridos nos quadrinhos nas décadas seguintes. (...) Transcendendo mero tributo ao gênero, Watchmen se mostra, mesmo após duas décadas, não apenas o assassinato definitivo dos “super-heróis”, mas talvez a mais complexa e bem sucedida autópsia do cadáver já realizada.
O "Trailerzinho" básico, legendado. Vale conferir!
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