terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

JULGAMENTO EM NUREMBERG



por Quatermass



Julgamento em Nuremberg (Judgement at Nuremberg – 1961) com certeza é um dos filmes de tribunais que mais perturba e intriga o espectador.


Nuremberg foi a cidade alemã onde ocorreram as grande reuniões do Partido Nacional Socialista (Nazista), cujo principal protagonista era Adolf Hitler. Foi de lá também que nos anos trinta foram aclamadas as “leis raciais”. Razão principal para os americanos a terem escolhido para sediarem os tribunais de crimes de guerra, cujos julgamentos resultaram na condenação de uma fração do segundo e terceiro escalão do regime nazista. Hitler, Himmler, Goebbels e Goering, suicidaram-se antes de qualquer veredito.


Mas o filme não fala das atrocidades orquestradas por militares, políticos ou fanáticos. O filme de Stanley Kramer nos remete a um julgamento inusitado: Dan Haywood (Spencer Tracy), um ex- juiz distrital do interior do Estado americano do Maine é convidado a presidir um tribunal cuja maioria dos magistrados havia recusado. Deveria chefiar, junto com outros dois juízes a apuração da veracidade nas acusações contra os réus e, se necessário, condená-los.




Os acusados eram eminentes cidadãos. Cidadãos que, a princípio, estariam acima de qualquer suspeita. Cidadãos que, em outra situação, não deveriam se encontrar naquela condição. Estes cidadãos eram em número de quatro: quatro juízes alemães. Juízes acusados de cometerem crimes em nome da lei. Juízes acusados de subverterem o Direito Objetivo (a lei) na defesa do Estado alemão e em detrimento do sentimento de justiça mais básico.


Além de mero contribuinte deste blog, não sou crítico de cinema, muito menos detentor de notável saber jurídico, mas há necessidade de distinguir, ainda que brevemente, os conceitos de Justiça, Direito e Juiz.


Justiça seria um sentimento de retidão advindo do meio social, anseio necessário para a convivência harmônica; Direito, seria o instrumento legal, através de normas e princípios, para alcançar a harmonia; Juiz seria o intérprete da lei, a pessoa idônea, investida de autoridade (pois representa o Poder Público) que avaliza a disciplina no meio social.




Porém, a ascensão de Hitler e suas teorias de pureza racial, acarretaram uma reacomodação da Justiça Alemã: muitos juízes se demitiram ou foram convidados a fazê-lo; outros se calaram; alguns não só aceitaram, como incrementaram a conotação racista contra os inimigos do Estado (judeus, ciganos, comunistas, liberais e deficientes mentais).


Estes últimos, tristemente existiram de fato, como Roland Freisler que, além de Juiz e nazista convicto, conferia para a si a função de acusador (e que morreu em fevereiro de 1945 ao se recusar a sair da sala do tribunal durante um bombardeio aéreo, local onde segundo consta, suas brutais ofensas e impropérios proferidos aos acusados deixariam Torquemada enrubescido).




Voltando ao filme, dos quatro acusados, um se destaca, Ernst Janning (Burt Lancaster), notável jurista antes mesmo da ascensão do Terceiro Reich, reconhecido internacionalmente. O que deixa seu advogado, Hans Rolfe (Maximiliam Schell) com uma dupla tarefa: manter inatacável a figura de Janning, como forma de preservar o que restava do orgulho intelectual alemão; e convencer o Tribunal de sua inocência.


Mas Janning mantinha-se calado: além de brilhante jurista, fora Ministro da Justiça do Terceiro Reich. Seu silêncio era sinônimo de vergonha. Mas, agora, com a Alemanha vencida, seria relativamente fácil arrepender-se de seus atos, quando poderia tê-lo feito desde 1933.




Esta é uma visão muito, mas muito resumida da obra, que trata do assunto com a delicadeza de um Mike Tyson. Diga-se de passagem, a atuação do promotor Tad Lawson (Richard Widmark) é marcante; assim como os depoimentos das testemunhas Rudolph Petersen (Montgomery Cliff), relativo a sua castração por ser comunista e deficiente mental; e Irene Hoffman (Judy Garland), sobre seu suposto relacionamento com um não ariano.




Como uma última observação, lembro-me de ter assistido esta obra muito antes da Wonder Vídeo distribuí-la em DVD (que recomendo, inclusive pela opção da dublagem original) - quando guri, vislumbrei um ator muito querido na época da TV preto e branco: William Shatner, no papel de assistente do Juiz Haywood.


Quando assisti pela antiga TV Difusora (atual Bandeirantes), deveria ter um onze ou doze anos e o motivo foram suas intervenções. Hoje, já mais velho, consigo distinguir os horrores reais do personagem Capitão Kirk. Mais que isso: quando nos deparamos com as sandices que aconteceram na 2ª Guerra Mundial, muitos prefeririam estar na ponte de comando da Enterprise que naqueles tribunais.





1 comentários:

Dr. Phibes disse...

Quatermass este filme foi o primeiro que eu vi criticar a amenização das penas contra crimes de guerra para garantir os interesses dos Russos e dos Norte americanos na guerra fria.

O DVD deste filme lançado no Brasil infelizmente e mas um descaso para conosco. As legendas estão incompletas e cheia de erro então só podemos assistir s/legenda ou dublado. A dublagem é da época, mas o filme foi censurado no brasil na cena ode se mostra filmes reais de um campo de concentração. Então nesta cena se ouve um dublador moderno imitando a voz do dublador original rsrs tosco.

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