por Thintosecco
Sempre tive carinho pelos livros e sei que muito disto se deve ao amor de duas pessoas, minha mãe e minha avó paterna. Com a mãe aprendi a ler e a encontrar prazer na leitura.
Da avó recebi tesouros, sendo um deles uma coleção da Editora Abril, que me proporcionou conhecer ainda na infância obras de alguns dos maiores autores da Literatura Universal. Eram os chamados “clássicos infanto-juvenis” (usando uma classificação da época que hoje parece extinta).
A coleção era vendida em bancas, os livros tinham boa encadernação, capa dura, e não eram baratos. Mas a vó reservava uma grana para comprar para nós (no caso, eu minha irmã). Um presente de valor inestimável. Mas quero falar mesmo é de um livro de lombada vermelha que era o volume número 17 ou 18 daquela saudosa coleção.
Viagem ao Centro da Terra, de Júlio Verne, é narrado por Axel, um jovem alemão, sobrinho de um ilustre geólogo, o Dr. Otto Lidenbrock. No ano de 1863, o Dr. Lidenbrock descobre um antigo manuscrito, escrito em código, consegue decifra-lo e fica sabendo que é de autoria de um antigo alquimista do século XVI. E o mais incrível: que o tal alquimista, chamado Saknussen, conseguiu chegar ao Centro da Terra e voltou, registrando o caminho percorrido.
Querendo repetir a incrível viagem, o geólogo e seu sobrinho Axel partem para a Islândia. Segundo o manuscrito de Saknussen, a entrada para o interior da Terra era feita a partir da cratera de um vulcão na região ocidental da ilha, o Sneffels, através de uma passagem que era sinalizada por um raio de luz solar que ali incidia em determinado horário.
Lá chegando, o Dr. Lidenbrock contrata um ajudante, Hans (que levava consigo a fiel pata Gertrudes), formando-se o trio que inicia a longa e fantástica jornada ao interior da Terra.
Num certo sentido, Viagem é a mais interessante das obras de Jules Verne. O autor notabilizou-se por prever fatos e, principalmente, máquinas que seriam criadas no século XX, como o submarino, o foguete e o dirigível.
A mais incrível “profecia” dele talvez tenha sido a Viagem à Lua, que mencionou com alguns detalhes muito aproximados do vôo da Apolo 11, como o local do lançamento, por exemplo.
Mas o livro em questão é um pouco diferente. Não há nenhum “engenho futurista”, até porque a jornada é basicamente feita a pé. Outro detalhe: em Viagem, os elementos fantásticos não estão tão relacionados ao futuro, mas principalmente ao passado, seja na figura do velho alquimista que descobriu a trilha, seja nos antigos mistérios descobertos no caminho, incluindo até dinossauros.
Simbolicamente, a Viagem ao Centro da Terra talvez remeta ao mito do Labirinto. E, quanto a este, há quem diga tratar-se da representação de uma jornada interior.
A obra teve várias adaptações. Muitos anos antes do filme com o Brendan Frasier, houve o clássico de 1959, que passou muitas vezes nas Sessões da Tarde da Globo, nos anos 70 e 80. Tinha James Mason no papel do professor Lidenbrock e Pat Boone como seu sobrinho.
Com o filme foi acrescentada à história uma personagem feminina, Carla Goteberg, viúva de outro geólogo. O vilão era o Conde Saknussem, que afirmava ser descendente do primeiro explorador e pretendia ter direitos sobre o que hovesse no interior do planeta, o que não era pouco, já que os aventureiros defrontam-se com pedras preciosas, cogumelos gigantes, mas também com dinossauros e até a cidade perdida de Atlantis.
Lembro ainda do desenho animado dos anos 60, da produtora Filmation, que foi exibido no Brasil nos anos 70. Nesse desenho, quem roubava a cena, com certa freqüência, era a pata Gertrudes! Mas era legal, com uma trilha sonora que se destacava e que acabou sendo aproveitada em outros cartoons.