Já estávamos nos anos 80, mas - assim como ainda hoje – não me importava tanto com os modismos e curtia tanto as novidades como as “velharias”, que considerava como se saídas do forno. Não sei se por influência dos livros e filmes vistos na infância, também na música me fascinavam aqueles álbuns que contavam histórias, como The Wall, Tommy, Thick as A Brick (das bandas Pink Floyd, The Who e Jethro Tull) e outros. Eram os chamados álbuns conceituais.
A esta altura você deve estar pensando: o que tem isto com a obra do Verne? Foi também o que pensei há duas décadas, quando um velho amigo me passou às mãos um álbum de um músico inglês chamado Rick Wakeman, mais conhecido como tecladista da banda Yes. “Estranho”, pensei ao olhar a capa do LP. Parecia um álbum de música erudita, com uma orquestra sinfônica à frente, só que ali havia algo fora do contexto: um sujeito vestido todo de branco, capa e tudo mais, ostentando uma longa cabeleira loura. E “pilotando” vários teclados! Ao ouvir o som, a mesma sensação de algo que parecia música “clássica”, mas... E aquela bateria? E as guitarras, os teclados, o vocal?
O álbum Journey to the Centre Of The Earth (1974), obviamente inspirado no livro de Verne, é conhecido como um dos exemplos do rock sinfônico, uma subdivisão do rock progressivo, gênero muito difundido nos anos 70 e marcado, na época, pelo experimentalismo , inclusive com uso de instrumentos incomuns no rock em geral, como flautas, violinos, eletrônicos , etc. No caso de Journey, a banda montada pelo Wakeman era acompanhada por uma orquestra sinfônica inteira, inclusive com coral. Uma experiência cara e arriscada. Cara porque o compositor/tecladista/figura estranha gastou o que tinha e o que não tinha, atolando-se em dívidas para gravar o álbum. Arriscada, porque em razão do alto custo - e pouco apoio - foi gravado ao vivo, em um único concerto, sem chance de repetição. Poderia ter dado tudo errado, mas deu quase tudo certo. Apenas um pequeno trecho não pôde ser aproveitado no álbum, sendo corrigido com um “jeitinho” no estúdio, com a inserção da repetição de um trecho anterior, que só os mais atentos percebem. O Deep Purple, por exemplo, realizou uma experiência semelhante alguns anos antes que, apesar de famosa não teve um resultado tão bom.
O que ocorreu com Journey foi surpreendente. Essa mistura de música erudita, rock e ficção de Júlio Verne (inserida no concerto também através de narrações de pequenos trechos da história lidas pelo ator David Hemmings) fez sucesso, chegando a figurar nas “paradas de sucesso” da época e dando origem a uma turnê mundial, com shows inclusive no Brasil, em 1975, com regência do maestro Isaac Karabtchevsky!
Neste ponto, poderia apenas convidar os amigos a ouvirem este incrível álbum. Porém, com a ajuda de mais um daqueles heróis (anônimos ou quase) que surgem na rede, vou além. Um fã brasileiro do Wakeman, que se identifica como ROLT01 não apenas disponibilizou no You Tube o show original do Rick Wakeman, como realizou uma edição brilhante em cima dele, inserindo efeitos, sons e imagens, inclusive do filme de 1959! Um trabalho fora-de-série! Eu achei muito legal! E é essa montagem, juntando sons e imagens de várias épocas em cima da obra de Júlio Verne, que convido os amigos a assistirem.
Alguns dirão: Que viagem! Já respondo: SIM! QUE VIAGEM!!! Só peço desculpas ao colega Quatermass por ter pego uma “carona” no estilo, em alguns momentos desse texto. Mas a imitação também pode ser uma manifestação de respeito. Um forte abraço a todos!
Ah, esclareço que esta é apenas a primeira parte, mas tem toda a sequência no You Tube!
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