por Quatermass
Baiano e os Novos Caetanos representou uma grata e inesperada experiência da televisão brasileira. No apogeu do período da Ditadura Militar (1964-1984), surge um quadro no final do programa Chico City, em que Baiano, alter ego de Caetano Veloso, apresenta sua banda.
Foi um momento raro e único, não só pelos LPs (1974, 1975 & 1982), mas também por conter material descaradamente e corajosamente subversivo.
Em sintonia com o então decadente ‘Movimento Tropicalista ou Tropicália’, Arnaud Rodrigues e Chico Anísio criaram uma mistura de samba-axé-rock através de canções memoráveis como ‘Vô Batê Pá Tu’, ‘Urubu Tá com Raiva do Boi’ e ‘Dendalei’, música título deste comentário.
‘Dendalei’ está à frente de seu tempo. A letra ironiza as podres relações do poder dezesseis anos antes de Collor, mesclado num ritmo que lembra as baladas de Enio Morricone com baião.
Se Chico Buarque, Caetano, Geraldo Vandré e outros sofriam perseguições, as músicas da dupla Arnaud/Chico Anísio criticavam maliciosamente o “milagre econômico brasileiro” e as nuances políticas dos Regimes Médici e Geisel.
Não entendo a razão desta imunidade, diante de tamanho descalabro, mesmo porque a Globo surgiu ainda nos anos sessenta e nunca esteve na vanguarda de qualquer mobilização ou questionamento político. Ao contrário, sua programação açucarada, que diz sem nada analisar, é a síntese de seu padrão de qualidade.
No entanto, este comentarista possui uma antipática e até reacionária opinião à respeito da MPB: a de que ela só produz qualidade quando sob pressão!
Seu auge durou pouco mais de dez anos, qual seja, do fim da década de sessenta e durante os anos setenta. Mais experimental que nunca, buscava diferentes maneiras de expressão sem cair na censura. Quando explícita, o material era recolhido e seu autor perseguido.
Sou gaúcho e muito se fala hoje em dia de CTG (Centro de Tradições Gaúchas) e música tradicionalista. Porém nos anos setenta o resto do Brasil produziu o melhor em música sem ficar bitolado ou se achar superior aos demais.
Pelo contrário, Baiano e os Novos Caetanos eram apenas uma infinitesimal faceta da MPB do anos setenta. Criativa, belíssima e inesquecível.
Não lembro nada disso aqui no Sul, além dos comportados Almôndegas e os aparentemente rebeldes Engenheiros do Havaí. É chato, sei, mas Arnaud e Chico Anísio fizeram mais pelo Brasil e pela MPB, ainda que como sátira, que a Cultura do Galdério. E tudo “dentro da lei”!
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