sexta-feira, 31 de outubro de 2008

SEBOS & FEIRA DO LIVRO DE PORTO ALEGRE




por Quatermass



Minha relação com sebos já é antiga. Para quem não sabe, "sebo" é a livraria especializada em compra-vende-troca de livros. Equivale ao brechó, em roupas; ao antiquário, em objetos raros; ou ao brique, em se tratando de bugigangas. Só que livro é livro. Seu valor é inestimável. Enquanto não me convencerem de que o mesmo programa que roda no Windows 95 ou DOS, funciona perfeitamente no XP, Vista ou Linux, continuo fiel ao papel.


Agora que em Porto Alegre está prestes a realizar sua anual Feira do Livro (esta postagem foi escrita em 25.10.2008), cuja primeira edição foi em 1955, volto-me também para o passado. Quando era estudante de pré-vestibular lá por 1980, fui duplamente iniciado. Primeiro, em conhecer um dos mais tradicionais “sebos” de POA, a Livraria Aurora. Lá estavam o proprietário, o saudoso Sétimo Luizelli e o Luiz, velho amigo e com quem troco prosa sempre que possível (só que agora em outro sebo). Havia, e ainda há, alguns hábitos destes livreiros com quem aprendi a dominar.


Asqueirosamente falando, identifico no papel diferentes tipos de manchas e marcas : mofo, umidade, cocô de mosca/mosquito/barata e a passagem de traças e brocas. Dupla solução para eliminar manchas: cortar com a guilhotina nas áreas afetadas ou pacientemente passar uma lixa d’água bem fina.


Quando a edição é rara, porém, com a capa praticamente destruída, novamente procura-se uma gráfica para encaderná-la, praticamente deixando em condição de novo (é óbvio que importa num acréscimo de seu valor).




Sempre dava uma escapada, seja antes, durante ou depois do cursinho e ia lá na loja. Movimentada, havia um atendimento contínuo dos dois, porém extremamente profissional: demonstravam grande conhecimento sobre editor, autor, título, ano da edição, disponibilidade – sem qualquer socorro junto a algum terminal de computador.


Sabiam aonde estavam e o que faziam. Se não possuíam determinada obra, recomendavam então ao cliente que fosse no “concorrente” (concorrente este, que, apesar de também ser tradicional, tinha o triste hábito de despender atenção à turma do “lero” da terceira idade e de desconsiderar qualquer um com menos de trinta anos). Em suma, passei a me sentir em casa.


Agora, a segunda iniciação: a Feira do Livro. Toda a vez que comento a Feira, já começo a sentir o peso de meus quarenta e quatro anos: a de achar que antigamente era melhor que a dos dias de hoje. Mas há um fundo de razão. Antes, a Feira do Livro de Porto Alegre agregava livrarias; hoje, também editoras. Resultado: houve um excessivo acréscimo de bancas, com livrarias disputando com editores, cujos livros são os mesmos, mesmos lançamentos e mesmos preços.


Só que o público cresceu também e simplesmente trafegar pela Praça da Alfândega nos fins de semana durante a primeira quinzena de novembro, além de ser um teste de coragem, exige paciência. As pessoas, ora visitam a feira para conhecê-la, apenas para tomar uma cerveja ou até mesmo comprar algum livro – e isto, sem exagero - numa maré de gente, que vaga feito correnteza de um rio.



Mas em 1980 havia ainda certa tranqüilidade na praça, exceto pelo afoito adolescente que inicialmente visitava banca por banca, no afã de descobrir algo novo. E com certeza havia, em razão da menor concorrência. Até que de tantas vezes seguidas cobrar do livreiro acerca de determinada obra o cara me respondeu: “ô guri, se tá a fim do livro, passa na livraria que te dão o mesmo desconto!” Fiquei chocado, afinal achava em minha santa ignorância que o desconto de 20% era concedido apenas naquele local. Fui na livraria e constatei que era isto mesmo! Que bom, pensei.


Mas não tem a mesma graça! O charme estava justamente na Praça da Alfândega e lá continuei seguidas vezes durante a década de oitenta, quando progressivamente, o evento foi inchando, inchando, inchando, até se transformar no Frankenstein que é hoje.


Resumindo: se quero comprar livro com desconto, hoje em dia vou direto à livraria; se quiser curtir um pouco do clima dos anos oitenta, dirijo-me com meus filhos no setor infantil, que agora virou anexo, junto ao cais do porto, do outro lado da Avenida Mauá. Se agora não vejo as bancas embaixo dos Ipês, pelo menos vislumbro o pôr do sol do Guaíba em meio a uma gurizada empolgada.


E quanto aos sebos? Bom, estes são meus relax diários – sempre que posso fujo da rotina estressante do trabalho, para jogar conversa fora com aqueles livreiros, que te conhecem pelo nome e dominam como ninguém a arte de preservar a memória escrita.




A Feira começou hoje, 31 de outubro, e vai até 16 de novembro. O comercial abaixo é de três edições atrás, mas é daqueles vídeos que não envelhecem!


terça-feira, 28 de outubro de 2008

QUANDO A NOITE CAI


por Quatermass




Como prometi tempos atrás, passo a comentar outro episódio de Arquivo X.





Nunca venham me perguntar um dia por que gosto disto ou aquilo – simplesmente gosto (óbvio que por alguma razão do subconsciente)! Foi assim quando criança e o mesmo agora adulto – incrível como mantive esta constância!


Quando a Noite Cai é um episódio da primeira temporada (1993/1994) – não é o mais badalado pelos fãs, nem da crítica. Pra falar a verdade, meu primeiro contato com a série se deu da forma mais comum: mera casualidade. Tendo o seriado estreado em 1993 nos EUA e em 1994 no Brasil pelo Canal Fox, por volta de 1996, meu ex-cunhado, todo empolgado, me emprestou uma fita VHS com meia dúzia de episódios e duvidava que não fosse gostar de pelo menos um. Não é que o danado estava certo? Acertou em cheio! Só que nenhum era cult (pelo menos para os fãs); ao contrário, banais para a maioria. E me chamaram a atenção por algum motivo.


Como parte de um todo, Arquivo X prima pela qualidade de determinados aspectos: a extraordinária trilha sonora de Marc Snow, os roteiros caprichados (pelo menos a metade) e o carisma de Mulder e Scully. Foi assistindo este episódio que fiquei fã da série; e, diga-se de passagem, sempre gostei mais dos “monstros-da-semana”, que dos fenômenos ufológicos (principalmente daquela história sobre “óleo negro” e outras bobagens).



Quando a Noite Cai conta a história da investigação sobre o desaparecimento de madeireiros em uma floresta. Suspeitando da sabotagem por eco-terroristas, Mulder e Scully descobrem afinal que uma espécie de cupins atacam e matam aqueles que se adentram na floresta à noite.


Despertados de sua hibernação quando do corte de uma árvore centenária (proibida legalmente), representam o castigo para os que desrespeitam a natureza e os limites impostos pela lei. Como é que estes bichos ficaram tanto tempo dento de uma arvore? Ninguém sabe – um dos furos do roteiro. De onde surgiram e porque foram para dentro dela? Só pelas especulações de Fox Mulder (e uma das coisas que mais gosto neste seriado). Por que somente os mocinhos sobreviveram? Perguntem ao Chris Carter!



Apesar do roteiro ter mais furos que um queijo suíço, gostei muito e passei a me identificar com a série – assim como também gostava de Viagem ao Fundo do Mar e suas divertidas e escatológicas criaturas. Pode até ser esta a resposta – mesclar a especulação absurda com seres irreais. Afinal de contas, que fim levou nosso ET de Varginha/MG? Que criatura era aquela filmada em Passo Fundo/RS que apareceu em Sinais? Por que tantas coisas que não podem ser identificadas como o planeta Vênus, balão meteorológico ou qualquer coisa descrita no Livro Azul caem rapidamente no ostracismo? É por isso que Arquivo X fez sucesso: buscou explicações absurdas e furadas para aquilo que oficialmente é explicado da maneira ainda mais estapafúrdia!





Se gostaram (ou não) deste comentário, vem mais por aí, pois estou preparando uma postagem sobre uma das criaturas mais assustadoras e queridas pelos fãs de X Files: Eugene Toons! Em tempo: um bom site sobre a série: www.xfonte.net.

domingo, 26 de outubro de 2008

VOCÊ AINDA NÃO VIU (NEM OUVIU) TUDO !



Estamos voltando, após uma parada obrigatória. E, no retorno, fui dar uma conferida nas últimas postagens dos nossos blogs amigos e parceiros. Sempre descobrimos coisas interessantes, às vezes inusitadas! Aproveito para divulgar pra vocês.







RUBENS & THE BARRICHELLOS


Acredite, existe mesmo uma banda com esse nome! E não é escracho. Trata-se de uma banda alemã de surf music, bem estilo anos 50/60, instrumental. Quem encontrou ess
a pérola foi o Woody, lá do blog Boogie Woody. Por incrível que pareça, o som deles não é ruim, não. Como vocês podem notar na capa, o álbum chama-se Gran Turismo e inclui até uma versão surf para Aquarela do Brasil!





FRATELLO METALLO


Que tal uma banda de Heavy Metal tendo como líder e vocalista um frade franciscano, de verdade, à moda antiga? Pois esta é a Fratello Metallo, que não tem nada a haver com o que a gente ouve por aí na linha gospel. É heavy, mesmo. Tá certo que essa banda não é assim tão novidade, já que o Frei já deu entrevista até para a Rede Globo. Mas eu, que não vi a matéria, descobri pelo blog Agora é Rock!.







Voltando ao universo dos filmes, encontro no CineDivx Bizarro, Robinson Crusoé em Marte, que eu só conhecia de nome e que tem no elenco o canastrão-cult Adam "Batman" West. Também lá no Bizarro: Galeria do Terror (ótimo seriado dos anos 70) e a primeira temporada de Perdidos no Espaço.





Enquanto isso, continua açucarada e eclética a Rapadura do Eudes, onde se encontra de tudo. Ainda quero ver Condorman e Wizards, postados já há algum tempo. Nos scans, bateu saudade do Homem-Aranha dos tempos da RGE! Mas, voltando ao presente, está rendendo a eleição norte-americana, até poster de filme. Que tal esse, "estrelado" pelo Barack Obama?



No mais, o tempo passa e o blog já completou um ano.


Só resta agradecer a quem nos acompanha, mais especialmente àqueles que vez e meia nos ajudam, diretamente ou por comentários/sugestões. Alguns desses amigos se encontram nos links citados acima, outros estão conectados conosco desde muito antes de existir a internet.

Atribuo em grande parte a vocês a continuidade de
O Planeta é Nosso!. Alguns números do blog nos surpreendem, como as mais de 17.000 visitas e as mais de 250 p0stagens feitas. Isto considerando que o blog raramente coloca algum arquivo para download e as nossas limitações em termos de tempo. Também são reduzidos os nossos conhecimentos de webdesign, html, coisa e tal, um dos motivos pelo qual o blog ainda não ganhou uma "cara" mais bacana, como a gente ainda sonha em fazer.

Mas as postagens vão continuar, principalmente em torno dos filmes e seriados - principalmente os antigos - mantendo sempre espaço aberto para outros temas de interesse. Obrigado a todos.


Não viemos dividir, nem conquistar. Viemos compartilhar - lembrando, comentando, divulgando - aquilo que muitas vezes a grande mídia não tem interesse em mostrar. Mas que temos o direito de conhecer, porque não? Afinal, o planeta é de todos nós. Um abraço!


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

MUDANÇAS



Pessoal, nos próximos dias o Planeta vai dar uma paradinha. Não é que o blog que vai mudar, é o Adminstrador que vai "se mudar". Mas voltamos daqui há uma semana, mais ou menos. Eu espero. E agradeço a atenção e paciência de vocês. Obrigado.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

BEN-HUR (1959)





por Quatermass




É um filme grandioso! Acabou! Não tenho mais nada a dizer! Até que tenho, mas tudo em superlativos.




O filme, tal como o Egípcio, é baseado em um romance – talvez este seja o menor dos detalhes. Nosso herói, Judah Ben-Hur (Charlton Heston) é contemporâneo de Jesus Cristo. Preservava uma antiga amizade com um agora General Romano, Messala (Stephen Boyd), que procura seu apoio para dominar o sempre inquieto povo judeu.


Amigavelmente nega e em troca é castigado, como exemplo aos demais. Em desgraça, é condenado às galés. Em uma batalha naval, salva a vida de um Cônsul, Quintus Arrius (Jack Hawkins – um de meus atores favoritos) e em troca é adotado por este.


Com prestígio, retorna à Judéia e lá reencontra seu ex-ex-amigo de infância (a repetição é proposital). Messala é desafiado em uma corrida de bigas, na qual é especialista: Messala contra Judah. E aí...





E aí que é bom ver este filmaço ao invés de ficar meramente lendo! Mesmo assim continuo: reencontra também Jesus, e num gesto de piedade, retribui o favor de anos atrás. Sua provação é recompensada: reencontra, por fim, sua amiga/noiva, a mãe e a irmã – a família novamente é reunida. E Nosso Senhor cumpre sua sina.





Mais! Mais! Agora os superlativos: a trilha sonora de Miklós Rózsa, principalmente na batalha das galés (antes, durante e depois) – o ritmo das batidas do marcador para com os remadores integra a trilha sonora – fantástico; a corrida de bigas (que lembra muito um certo Episódio I de uma certa trilogia de um certo diretor - em tudo inferior ao filme de Willian Wyler).



A suposta relação homossexual entre Messala e Judah, muito comentada pela crítica, mas sempre analisada superficialmente, também poderia se estender a este com Quintus Arrius – muito comum naquela época. Fotografia excelente, roteiro excelente, direção excelente, que mais falta?





Por fim Charton Heston: em minha postagem de janeiro, comentei sobre El Cid e o reconhecimento à grandeza do personagem, que se confunde com o ator. Hoje, já falecido, o respeito ainda mais, mesmo com certas críticas de Michael Moore. Afinal, ninguém é perfeito, mas na tela grande, com certeza, Charton Heston o foi!









AS MUSAS DOS FILMES II



Thintosecco


Há alguns meses uma postagem aqui no blog, com este mesmo título, prestou homenagem à atriz Angelina Jolie. Retorno ao tema agora com a extraordinária Monica Bellucci, pedindo licença para aproveitar trechos da biografia dela, conforme a Wikipedia.



Monica Bellucci iniciou sua carreira nos anos 80, após abandonar os estudos de Direito na Universidade de Perúgia para seguir a carreira de modelo. Em 1988 mudou-se para Milão, um dos grandes centros mundiais da moda, passando a fazer parte do elenco internacional da agência Elite Models e trabalhando para grandes estilistas como Dolce & Gabbana, além de posar para fotografias de moda em Paris e Nova Iorque em algumas das maiores revistas do ramo, como Elle e GQ, o que a levou a conseguir destaque internacional na profissão; nesta época, Monica fez a transição para o cinema, dedicando-se os estudos de interpretação. Fluente em italiano, inglês e francês, o que lhe possibilita trabalhar em filmes nas três línguas e em países diversos, começou no cinema em meados dos anos 90, conseguindo chamar a atenção da indústria ao fazer uma "ponta" em seu primeiro filme em língua inglesa, Drácula de Bram Stocker, dirigido por Francis Ford Coppola, em 1992, ocasião em que figurou como uma das noivas do sinistro Conde. Fez também uma série de filmes em francês, com seu marido, o também ator Vincent Cassel.




Com o sucesso mundial do filme italiano Malèna, de Giuseppe Tornatore, Monica teve as portas de Hollywood abertas, filmando com Bruce Willis e participando de dois filmes da série Matrix, Reloaded e Revolutions, como a inesquecível Perséfone. Também foi Maria Madalena no polêmico sucesso de bilheteria de Mel Gibson, A Paixão de Cristo. Considerada a mulher mais sexy do mundo em 2004 (já com quarenta anos de idade) pelos leitores da revista masculina Maxim’s, Bellucci escandalizou o público do Festival de Cannes em 2002, ao participar de uma das cenas mais violentas e realistas de um estupro no cinema, no filme Irreversível, do francês Gaspar Noé. Suas fotos nuas para grandes revistas como Vanity Fair, Maxim’s, Gentlemen’s Quartely entre outras a transformaram no grande símbolo sexual italiano da atualidade. De uma beleza versátil, Monica Bellucci também fez sucesso com o público infantil e adolescente ao personificar a rainha egípcia Cleópatra no filme francês Asterix e Obelix: Missão Cleópatra, baseado nos quadrinhos dos heróis gauleses.


Para quem quiser ver mais fotos da Monica, sugiro este link, no site Famous Babes.
Também sugiro conferir a filmografia dela, no IMDB.
No mais, um clipezinho, ao som do U2!


segunda-feira, 6 de outubro de 2008

NO TEMPO DAS VHS


Quatermass






Toda vez que comento com alguém como foi o início da locação de fitas VHS me sinto como um velho contador de histórias, um Pantaleão ou alguém tentando passar uma conversa! Mas é sério! Foi assim: “Era uma vez...” um sujeito que ganhou de aniversário um videocassete Sharp, o VC-8510, lá nos longínquos anos de 1982. Ganhei, porque de tão caro na época só pedindo pro “papito”. E as fitas BASF, importadas da Alemanha, custavam 1/10 do valor do aparelho! Coisa de pequeno burguês vão pensar! Aí penso eu: se gosto de filmes, nada mais justo tê-los.



Num primeiro momento, via TV – que, na época, a de sinal aberto ainda mantinha uma ótima programação. Depois, via locadora de vídeo. E é neste momento que a coisa parece fugir da realidade e ingressar no mundo da ficção! Quando foi adquirido o desejado aparelho, de brinde acompanhava um técnico para instalá-lo: F-A-N-T-Á-S-T-I-C-O! Incrível, né? Alguém para ligar o cabo na entrada da antena no videocassete e outro do aparelho para o televisor! E esse cara já vinha com a dica de uma locadora para que a vítima lá se associasse. Além do cadastro, o bem intencionado locatário deveria deixar uma JÓIA em garantia (falei J-Ó-I-A) – óbvio: vá que alguém retirasse uma inestimável fita pirateada e não a devolvesse mais!!!


E por falar em pirataria, essa já era a regra. Se hoje dizem por aí que DVD pirata estraga o player, agora imagine uma fita vagabunda, com imagem sofrível, legenda medonha, mal traduzida, e de tão suja que toda hora tinham que ser limpos os cabeçotes. Não é mentira, até já contei essa pro Thintosecco - certa vez loquei Mad Max 2 com uma legenda peculiar: quando o fundo era claro, os caracteres eram pretos e se mudasse passava para o branco!!! Legendinha em amarelo? Luxo! A tradução era mais cômica que a dublagem mal feita do primeiro Jornada nas Estrelas. Cômicos também eram os estabelecimentos comerciais destinados à locação: uns tinham fichários com sinopses do filmes; em outros, as fitas eram simplesmente espalhadas pela loja sem critério algum – até pelo chão! Algumas cobravam adiantado, em outras pendurava-se. Mas uma das coisas mais irritantes para o cliente ouvir e receita certa para a quebra deste tipo de negócio era quando o atendente dizia “o filme está na rua” – traduzindo: é lançamento, só há uma fita, já tem fila de espera e tu és o trouxa que ficarás para o final!






Mas nos anos oitenta havia mais emoção em alguns aspectos, diferente do que é hoje. Se a quarta versão de Indiana Jones é anunciada para o dia 03 de outubro, todas as lojas passarão a comercializar a partir desta data. Os anos oitenta eram diferentes não apenas pelo reinado da pirataria. Havia uma baderna quanto aos lançamentos: as locadoras publicavam anúncios nos classificados de jornais noticiando a chegada deste ou aquele filme. Em suma: o acervo de uma locadora era completamente distinto da outra, pois os fornecedores vinham de toda parte. Dificilmente existiam dois filmes pirateados iguais: podia-se encontrar qualquer versão do Dr. Quatermass numa ou um clássico esquecido em outra, mas nunca os dois. Em 1988, com a imposição da fita legalizada e o recolhimento das copias, houve um aumento significativo de qualidade do produto, mas representou também o fechamento de muito e muitos estabelecimentos que ganhavam dinheiro rápido e fácil gastando pouco.


Algumas locadoras permanecem ainda funcionando desde os anos oitenta – eu, por exemplo, sou associado de uma no bairro Bom Fim há 21 anos. Surgida em dezembro de 1986, em janeiro de 1987 ela anunciou o recebimento de Aliens - O Resgate. Resultado: fui lá e em associei. Hoje é uma das grandes sem pertencer às Blockbusters, mas que soube se adaptar e crescer frente às mudanças e novidades tecnológicas. Mesmo que hoje em dia ainda prefira o disco em vinil ao CD, um dia aposentarei definitivamente o videocassete, mas será muito antes do meu toca discos!

sábado, 4 de outubro de 2008

O PAGADOR DE PROMESSAS





por Quatermass





Um dos filmes brasileiros que mais prezo. O Pagador de Promessas (1962) supera O Cangaceiro e O Assalto ao Trem Pagador em sua aparente simplicidade.



Na verdade, a história é simples, porém com uma rara carga de aspectos extremamente complexos e dispostos num universo de pessoas aparentemente comuns. Nunca foi anunciado como obra crítica, subversiva, contra o sistema e toda aquela ladainha que a esquerda brasileira adota quando quer promover alguma porcaria cinematográfica. Ao invés, prima pelo singelo – e, por incrível que possa parecer, é exatamente inteligente e toca fundo na ferida.


Leonardo Villar está esplêndido como o inocente e determinado Zé do Burro. Seu objetivo: pagar uma promessa à Santa Bárbara, carregando uma cruz, acompanhado de sua impaciente e incompreensiva esposa (Glória Menezes) até a igreja da santa em Salvador. Sujeito simples e humilde, mas digo novamente, determinado a deixar a cruz dentro da igreja. Em seu caminho está o vigário (Dionísio Azevedo) que além de desdenhar da promessa, impede também acesso a cultos afro, dispersando as baianas do candomblé.


Além da postura excludente e elitista da Igreja, há também os que procuram capitalizar o incidente criando outro: o repórter que induz nosso pagador a responder o que não quer e escrevendo somente o que interessa ao jornal. Agora, Zé do Burro, que além de representante do capeta pela Igreja, também é o Novo Cristo, comunista, à favor da reforma agrária, contra a exploração do homem pelo homem e tantas outras coisas que nunca pensou em ser ou dizer.


O dono do boteco fica feliz com o fato, pois seus negócios melhoraram. O boato vai se agigantando até o triste clímax.


É uma obra rara e que dificilmente o espectador não deixa de manter empatia com Zé do Burro. De burro não tem nada. Burros somos nós, que passados quarenta e seis anos, continuamos vivenciando e sofrendo: carregando uma cruz e sendo manipulados pelos outros!






quinta-feira, 2 de outubro de 2008

OUTRA VIAGEM AO CENTRO DA TERRA - parte 2



Thintosecco


Fiquei um pouco receoso quanto à seqüência dessa postagem no blog quando percebi que a primeira parte despertou a expectativa de pessoas com muito conhecimento da obra de Verne. Por outro lado, aqui no Planeta nós adotamos o costume de falar sobre filmes antigos (mas também de música, livros, etc) quase sempre de uma forma bastante pessoal. Afinal de contas, a arte só faz sentido relacionada ao que sentimos. E parece que o pessoal que nos acompanha concorda e gosta disso. Digo isso a fim de pedir licença aos amigos para deixar de enumerar outras versões de Viagem ao Centro da Terra – que os colegas talvez conheçam melhor que este blogueiro – para centrar numa obra em particular e pela qual tenho um carinho especial. Mas, quem sabe se vocês não compartilham da minha opinão?





Tudo tem o seu tempo e assim como a Terra e a Lua temos nossas estações e fases. Alguns anos depois das leituras de Verne, Dumas, Twain e outros, minha atenção foi atraída pela música – além das gurias é claro, mas aí seria outra postagem! – de modo que os livros cederam espaço para os discos. Discos mesmo, aqueles velhos LPs de vinil. O mundo não ganhou mais um músico, mas naquela época ouvir discos e dar palpites era comigo mesmo!


Já estávamos nos anos 80, mas - assim como ainda hoje – não me importava tanto com os modismos e curtia tanto as novidades como as “velharias”, que considerava como se saídas do forno. Não sei se por influência dos livros e filmes vistos na infância, também na música me fascinavam aqueles álbuns que contavam histórias, como The Wall, Tommy, Thick as A Brick (das bandas Pink Floyd, The Who e Jethro Tull) e outros. Eram os chamados álbuns conceituais.






A esta altura você deve estar pensando: o que tem isto com a obra do Verne? Foi também o que pensei há duas décadas, quando um velho amigo me passou às mãos um álbum de um músico inglês chamado Rick Wakeman, mais conhecido como tecladista da banda Yes. “Estranho”, pensei ao olhar a capa do LP. Parecia um álbum de música erudita, com uma orquestra sinfônica à frente, só que ali havia algo fora do contexto: um sujeito vestido todo de branco, capa e tudo mais, ostentando uma longa cabeleira loura.
E “pilotando” vários teclados! Ao ouvir o som, a mesma sensação de algo que parecia música “clássica”, mas... E aquela bateria? E as guitarras, os teclados, o vocal?




O álbum Journey to the Centre Of The Earth (1974), obviamente inspirado no livro de Verne, é conhecido como um dos exemplos do rock sinfônico, uma subdivisão do rock progressivo, gênero muito difundido nos anos 70 e marcado, na época, pelo experimentalismo , inclusive com uso de instrumentos incomuns no rock em geral, como flautas, violinos, eletrônicos , etc. No caso de Journey, a banda montada pelo Wakeman era acompanhada por uma orquestra sinfônica inteira, inclusive com coral. Uma experiência cara e arriscada. Cara porque o compositor/tecladista/figura estranha gastou o que tinha e o que não tinha, atolando-se em dívidas para gravar o álbum. Arriscada, porque em razão do alto custo - e pouco apoio - foi gravado ao vivo, em um único concerto, sem chance de repetição. Poderia ter dado tudo errado, mas deu quase tudo certo. Apenas um pequeno trecho não pôde ser aproveitado no álbum, sendo corrigido com um “jeitinho” no estúdio, com a inserção da repetição de um trecho anterior, que só os mais atentos percebem. O Deep Purple, por exemplo, realizou uma experiência semelhante alguns anos antes que, apesar de famosa não teve um resultado tão bom.


O que ocorreu com Journey foi surpreendente. Essa mistura de música erudita, rock e ficção de Júlio Verne (inserida no concerto também através de narrações de pequenos trechos da história lidas pelo ator David Hemmings) fez sucesso, chegando a figurar nas “paradas de sucesso” da época e dando origem a uma turnê mundial, com shows inclusive no Brasil, em 1975, com regência do maestro Isaac Karabtchevsky!






Neste ponto, poderia apenas convidar os amigos a ouvirem este incrível álbum. Porém, com a ajuda de mais um daqueles heróis (anônimos ou quase) que surgem na rede, vou além. Um fã brasileiro do Wakeman, que se identifica como ROLT01 não apenas disponibilizou no You Tube o show original do Rick Wakeman, como realizou uma edição brilhante em cima dele, inserindo efeitos, sons e imagens, inclusive do filme de 1959! Um trabalho fora-de-série! Eu achei muito legal! E é essa montagem, juntando sons e imagens de várias épocas em cima da obra de Júlio Verne, que convido os amigos a assistirem.




Alguns dirão: Que viagem! Já respondo: SIM! QUE VIAGEM!!! Só peço desculpas ao colega Quatermass por ter pego uma “carona” no estilo, em alguns momentos desse texto. Mas a imitação também pode ser uma manifestação de respeito. Um forte abraço a todos!


Ah, esclareço que esta é apenas a primeira parte, mas tem toda a sequência no You Tube!



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