Há algum tempo comentei sobre Guerra dos Mundos e de George Pal. Naquela obra o referido cidadão era o produtor, mas também é óbvio que deixou sua marca. Neste post comento uma obra toda sua.
Hoje em dia Steven Spielberg e George Lucas são sinônimos de diversão e entretenimento. São visionários e criativos. A seu modo nos contam um conto de fadas. E antes? Havia mais gente: Jack Arnold, Nathan Juran, Ray Harryhausen e muitos outros.
Mas destes havia um que possuía uma mística, uma capacidade de nos transmitir uma lição de moral, sem estresses e de maneira adorável. Suas fábulas eram um misto de aventura, ficção, drama, questões adultas, porém, ao mesmo tempo infantil. A alegria, a decepção, o medo, a raiva e a tristeza eram trabalhados num misto de ingenuidade e genialidade. George Pal tinha a alma de Peter Pan: recusava-se a crescer o eterno menino que criou obras de vulto. Tentar comparar sua A Máquina do Tempo (1960) com a refilmagem de 2002 não tem sentido, posto que a segunda não possui sequer a mística da original.
As Sete Faces do Doutor Lao (Seven Face of Dr. Lao – 1964) nunca foi refilmado e dificilmente poderá sê-lo, pois tantas são as qualidades. Na modesta cidade de Abalone seus cidadãos estão diante de um dilema: vender suas propriedades para um rico fazendeiro. Um jornal local defende a permanência, mas está perdendo a causa. Surge então o Circo do Doutor Lao. Na verdade, do nada, pois nosso velhinho chinês chega num jumento.
Tony Randal interpreta o Doutor Lao, além de outros seis personagens (Merlin, Pan, Apolônio de Tiana, o Abominável Homem das Neves, a Serpente e Medusa. Tão polivalente quanto o sábio chinês, apresenta nossos pecados, nossas fraquezas. Não se amedronta diante do poderoso fazendeiro, ao contrário, convida-o e em seu circo conhece uma de suas faces (numa autoparódia). Ao final, incita os cidadãos a decidirem por seus destinos. Muita alegoria é empregada, inclusive quanto ao “dragão”, que apesar das constantes advertências, mais parece um girino num aquário que vive cuspindo para fora. Mas aí se dá a verdadeira magia de George Pal: se tudo não é o que aparenta ser, na verdade o que é o “dragão”? Os capangas do fazendeiro derrubam o aquário do bicho desaforado e na verdade descobrem que ele é... um gigantesco dragão!
Moral da história: nem tudo é o que aparenta ser, nem sempre aparentamos o que realmente somos, mas muito cuidado devemos tomar quando um sábio nos previne diante do mal e lhe damos as costas. RECOMENDO, mesmo porque em algum momento de nossas vidas, diante de um dilema, surge um velhinho chinês, que do nada, nos apresenta um circo em que somos as principais atrações!