Quatermass
Eis um filme capaz de desafiar qualquer dos diretores contemporâneos a repetí-lo. Não pelos efeitos especiais, afinal é de 1957. Não pela história, afinal qualquer um pode filmar qualquer coisa. Não pelo público, afinal sempre houve, há e haverá aficionados pela sétima arte. Mas refiro-me à alma da obra, o cerne, sua mensagem e a coragem necessária de levá-la na tela grande novamente. Seu diretor, Jack Arnold, conhecido por filmes B como Monstro da Lagoa Negra (1954) e Tarântula (1955) sempre foi identificado aqui no Brasil como trash-maker. Nada mais falso. Mesmo nestas obras sobressaem qualidades, ainda que minuciosamente escondidas. Mas em O Incrível Homem que Encolheu (The Incredible Shrinking Man) estas qualidades saltam aos olhos e dificilmente deixa-se de notá-las, a menos que o expectador ou crítico hipocritamente diga que não as viu!
Passa-se num belo dia dos anos cinqüenta. Scott Carey (Grant Williams) descansa tranquilamente em uma lancha e é atingido por uma nuvem de ”não-sei-o-quê”. Se houvesse uma seqüência, prontamente identificariam o tipo de nuvem (radioativa, alienígena ou qualquer outra coisa). Mas já começa a se perceber o talento do diretor: a causa não interessa (e não interessa mesmo), não há culpados (e não interessa mesmo), nem sua solução (e não interessa mesmo). Por que repito tanto? Porque é o que os diretores fazem hoje em dia: não se preocupam em contar uma história - tão somente ficam no blá-blá-blá e não desenvolvem a idéia. Tratam o expectador (e o crítico, via de conseqüência) como idiota. Nunca se perguntaram porque em geral a continuação é sempre inferior aos primeiro filme? Por isto! Não existe uma nova idéia, apenas recauchutam a original.
Voltemos ao original: Scott Carey começa a sofrer conseqüência de sua exposição. Será que é por isto ou aquilo? Não sei! Não interessa! Mas também começa a padecer de suas conseqüências – e é neste momento que o filme cresce e se sobressai de muitas e muitas obras hollywoodianas. Sua estatura fica cada vez menor, diminuindo e diminuindo sempre, até o ponto em que sua esposa o tem por morto e passa então viver no porão em companhia de uma tarântula (homenagem do diretor ao filme anterior, provavelmente). Sua companheira e rival disputam pelo mesmo alimento: sobras. Mais: Scott também é o alimento da aranha e daí passa a existir a luta pela sobrevivência.
O verdadeiro valor do roteiro de Richard Matheson está em que nosso herói, mesmo ciente de sua situação enfrenta o desafio sem esquecer sua condição humana – e aí está a verdadeira mensagem do filme! Às vezes mescla curiosidade com ansiedade. Mas em momento algum o tamanho implicou em inferioridade, a tal ponto de, no final enfrentar sua vizinha ciente de que a humanidade está presente em sua consciência. O discurso final é digno de Carl Sagan ou algum outro filósofo/pensador. Neste estão algumas das palavras mais poderosas e sábias que Hollywood já pôs em um filme. Duvido que mesmo Spielberg tenha coragem de produzir uma nova versão desta jóia; mais ainda que seja capaz de superá-la. Talvez, na história do cinema, somente Jack Arnold fosse capaz de filmar e pôr seu nome numa verdadeira declaração de humanidade.
Trecho de documentário do Sci-fi Channel sobre o diretor Jack Arnold (em espanhol):
3 comentários:
Otima dica. O filme é excelente
parabens pelo artigo
Obrigado, Luiz. Participe sempre!
ótimo artigo
Valeu pelo jabá rs
até atualizei o post lá
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