A maioria dos internautas de hoje não se lembra, mas um dos ranços existentes no tempo da ditadura militar no Brasil (1964-1985) era rotular filmes e seriados americanos como enlatados. Hoje em dia caiu em desuso, mas dos anos setenta até fins dos anos oitenta essa expressão era comum. Por que enlatado? Porque é uma expressão pejorativa. Significa o invólucro metálico do rolo contendo o filme, produto de uma cultura importada, alheia a nossa realidade. Essa interpretação é minha, mas que refletia bem o pensamento dos estudantes nos tempos de colégio e faculdade. Era uma maneira de desprestigiar a obra. Assistir Glauber Rocha e ler Marx eram os objetivos de qualquer estudante mais progressista. Repito, eram os objetivos, pois até hoje duvido que alguém tenha interpretado corretamente o pensamento dos dois. Um fato é curioso: antes, se criticava a intervenção cultural de um país sobre o outro; hoje, é moda criticar a globalização. Globalização cultural, econômica ou, na verdade, ambas? Por que? Porque agora o processo de dominação dá-se em escala mundial, o alcance do agente dominador é maior. No entanto, mui humildemente, sempre achei que quanto mais pessoas tiverem acesso e conhecerem determinada cultura/mensagem, mais podem criticar. Será que nossas vanguardas intelectuais tem medo exatamente disto? De perder o controle e a voz para outros segmentos nunca antes ouvidos? Alguém sabia que a Al Qaeda foi fundada em 20.08.1988? Mas que só passou a ser levada a sério em 11.09.2001! Ela também é um produto da globalização, pois se não foi criada por ela deve à Internet, a mídia, a manutenção de sua existência, seja por sites, seja pelas notícias. Além desta, muitas outras organizações não oficiais, passaram a dispor de um espaço antes inexistente. É uma das contradições da cultura americana: quando difundida sempre deixa lacunas. E uma das contradições da nossa intelectualidade é a de que nunca procurou conhecer ou compreender o Tio Sam seriamente, enquanto que outros segmentos minoritários já o estão fazendo.
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
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