domingo, 4 de maio de 2014

SER GAÚCHO É SER SUPER-MEGA-MASTER




por Quatermass



Convenhamos... é muito chato para um gaúcho ter que reconhecer que fora da Província, o brasileiro é mais legal! 


Sou porto-alegrense, nasci aqui, mas a cada ano perco um pouco mais de paciência. Por que motorista gaúcho adora fechar e não dá passagem quando alguém sinaliza? Por que o gaúcho arrota valentia e soberba, porém, quando está na fila do buffet ou do caixa eletrônico é o rei dos afetados?


O arquétipo serviria inclusive para um filme do Woody Allen: atrás do(a) dito(a) cujo(a), assistindo colocar com toda delicadeza a porcaria da azeitona, ervilha ou grão de feijão ao lado do arroz (e não em cima); ou então, no banco 24 horas, quando, após longa espera, o(a) sujeito(a), olha para trás, vislumbra a fila que formou e volta a fazer suas operaçõezinhas no terminal com irritante calma. E o pior: o cara seguinte faz a mesma coisa! Se paulista tem fama de ser fechado e mal educado, o gaúcho tri-legal informa errado! 






De onde surgiu o mito do gaúcho? Aquele que vem em seguida depois de Deus? Que se acha o tal? Se Simões Lopes Neto quis promover alguma coisa, o tiro saiu pela culatra! 


Digo eu então que Gaúcho é canguinha: chora em dispender R$ 1,00 em rifa ou  caridade, porém não sabe porque está endividado! Se acha o tal, que o Estado deveria se separar do Brasil, que o Nordeste é sangria de divisas, porém lá e no resto do país, a visão do gaúcho é a do ser sério, trabalhador e simpático. Até que ponto? 


Tudo que pipoca no Rio e São Paulo, logo “estoura” aqui! A pobreza de idéias de nossos noticiários é tanta, que o bagual não se toca que há quarenta anos assiste o mesmo produto, sem modificações. Quando um conterrâneo é reconhecido lá fora, prontamente vem a mídia gaudéria alardear bobagens por dias, senão semanas. 


Nossa dependência da manifestação “estrangeira” é tanta que quando não há notícia, recauchutam uma. Uma delas são as ciclovias, que há anos estão sendo implantadas em POA: debates, discussões, perda de tempo. A moral é a seguinte: motorista gaúcho não respeita ciclista, o ciclista gaúcho não respeita pedestre, e este último tem tendências suicidas (se duvidas, tenta atravessar de carro a Av. Siqueira Campos defronte a prefeitura às 18:00 horas). 






O atendimento gaudério nas lojas é tão sutil e delicado quanto o bigode do gaúcho do Alegrete. E falo isto porque já fiz viagens para fora da província e testemunhei que lá as pessoas são mais “light” e não precisam carregar no falso sotaque gauchês. 


O brasileiro causa espanto porque, se não sabe, aparenta saber viver. Ao contrário, o gaúcho é como aquele sujeito que joga uma casca de banana no chão e fica escondido atrás da árvore para ver um incauto cair; se bate saudades é para saber se o outro está pior ou melhor que antes. Volto a dizer: passam-se os anos e me canso cada vez mais das mesmices gaudérias; aqui não há perspectiva de futuro, não há otimismo. 






Vive-se o hoje, com rescaldo de glorias passadas: o suicídio de Getúlio Vargas, a deposição e exílio de João Goulart e a resistência de Leonel Brizola, bem como o discurso caquético de resistência à ditadura por alguns dinossauros políticos. No Rio Grande a política se tornou exaltação dos gloriosos feitos de outrora. No mundo exterior os políticos, mesmo os “coronéis do nordeste” se modernizaram, se adequaram às constantes mudanças de cenário.


Esta cultura política estagnada está associada à ausência de uma verdadeira tradição gaúcha, não aquela forjada pelos CTGs nos anos 30 e 40, mas uma original como a existente na Argentina e Uruguai. Dessa falta de sintonia e autenticidade é que resultam coisas que chocariam um “de fora”. É por isso que as mesquinharias permanecem no Rio Grande: um triste Estado sem perspectivas!  




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