domingo, 14 de dezembro de 2008

LIBERTAÇÃO – PARTE 2




por Quatermass




Este comentário não é continuação de nenhum outro. É o título de um dos mais marcantes episódios de Arquivo X.




Basicamente nos conta o reencontro de Fox Mulder com sua irmã, abduzida muitos anos antes. Traumatizado pela perda de Samantha, Mulder travou uma batalha solitária em busca da verdade. A verdade alcança a libertação, ela nos proporciona a recompensa – paz interior. Entretanto, o resultado obtido muitas vezes é o inesperado.


Episódio da sétima temporada (1999/2000), ainda consegue surpreender o espectador pela qualidade do roteiro, a excelente interação dos personagens e, principalmente, pelo desfecho  - etéreo, melancólico e empático. O enredo: após ter localizado dezenas de covas de crianças, resultado da ação de um assassino serial, Mulder volta a investigar o sumiço de sua irmã. Mas a abertura do episódio, que poderia ser tétrico, é extremamente belo, com crianças saindo de suas covas e juntas esperando o momento da ascensão. Neste palco é que se desencadeará a história.




Depois de muito investigar, Mulder e Scully encontram a enfermeira que testemunhou ter visto Samantha viva pela última vez. Já antevendo o fim, pede a Scully entrevistá-la. Ao mesmo tempo, um menino, filho desaparecido do psíquico Harold Piller aparece diante de Mulder e ambos sobem a colina onde foram encontradas as covas. E nessa hora, um Fox Mulder crente de suas convicções, vislumbra os jovens espíritos, interagindo simpaticamente as suas manifestações.


Até que, de repente, uma jovem vem em sua direção e a fisionomia do agente muda drasticamente. Da surpresa para a melancolia – e esta é uma das mais belas cenas de todo o seriado – abraça Samantha, diante dos demais. Retornando à Scully, esta lhe pergunta: “Você está bem, Mulder?” Resposta de seu parceiro: “Estou ótimo. Estou livre.”





Apesar de Chris Carter ter exagerado em tentar criar uma mitologia consistente para a série, ao menos encontrou um final inesquecível para o dilema de Mulder. Segue a narrativa da abertura, na versão dublada, que mescla um pouco de descrença e esperança (isto mesmo), mas que resume a motivação de nosso herói:


“Disseram que as aves se recusaram a cantar e a temperatura caiu abruptamente, como se Deus estivesse atônito. Ninguém se atreveu a falar alto, ou por vergonha ou por tristeza. Desenterravam os corpos um por um. Os olhos dos mortos estavam fechados, como se esperassem permissão para abrir. Ainda estariam sonhando com sorvetes e pirulitos? Com um bolo de aniversário e sem nenhum futuro além desta tarde? Ou sua inocência teria sido levada com suas vidas, enterradas na terra fria há muito tempo?


Estes destinos parecem cruéis demais até mesmo para a permissão de Deus. Ou as crianças trágicas nascem de novo quando o mundo não está olhando? Eu quero muito acreditar que há uma verdade além da nossa, escondida e oculta de todos, menos dos olhos mais sensíveis. Na procissão sem fim de almas, que não podem e não serão destruídas. Eu quero acreditar que não estamos conscientes da eterna recompensa e tristeza de Deus. Que não podemos ver sua verdade: de que o que nasce ainda vive e não pode ser enterrado na terra fria. Mas apenas espera o comando de Deus para nascer novamente, onde na antiga luz estelar ficamos esperando.”


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