por Quatermass
Der Tunnel (1933) é muito mais que um filme, é uma história à parte. Baseado no best seller alemão de 1913, escrito por Bernhard Kellermann, de título homônimo, dele derivou três versões de nacionalidades distintas.
OBS: existe uma quarta versão, curiosamente seria a primeira, alemã, de 1915 (dirigida por William Wauer), mas como não a vi, fica só o registro.
Comecemos pelo ponto incontroverso: a história. Conta as peripécias na construção de um túnel que passa por debaixo do Atlântico, ligando a Europa com a América. Coisa de europeu: a obsessão por expandir horizontes, aproximando continentes, seja por ar ou pelo fundo do mar!
Agora, a questão controversa: as três versões da obra. A primeira, francesa - Le Tunnel (1933), porém dirigida por um alemão, Kurt Bernhardt, pode ser considerada a obra mais espontânea e fiel ao livro que seus derivados.
Explico: Kurt Bernhardt, antipático ao regime nazista filmou na França. Além possuírem concepções de superioridade racial, os nazistas também eram nacionalistas, e segundo sua ótica, nada mais justo fazer a versão alemã do best seller.
A forma: a GESTAPO “convidou” Bernhardt a filmar Der Tunnel (1933) em Munique. Como Hans Albers, sentiu-se um tanto quanto oprimido e, na opinião deste comentarista, esta segunda versão talvez seja a mais contida das três.
The Transatlantic Tunnel (1935) é a versão inglesa: mais extensa e dotada de cenas tecnicamente deslumbrantes; algumas, porém, arrastadas e supérfluas (tal qual F. P. 1). Segundo a crítica americana a versão alemã é a melhor. Mas como este comentarista acredita, sociologicamente falando, que meio condiciona o indivíduo, fico com a primeira!
Logo, de maneira oblíqua, analiso Der Tunnel a partir de Le Tunnel (já que o diretor é o mesmo)! Em nenhuma há um ator que desponte; o coletivo parece ser mais importante. A fotografia denota o aprimoramento que se prolongará por mais três décadas.
Não há um momento marcante (provavelmente decorrente da falta de um protagonista saliente e roteiro fraco). O heroísmo, em havendo, dilui-se entre os presentes, dispersando também a empatia.
Superior a F. P. 1 Antwortet Nicht (1932), representa uma etapa intermediária entre o melhor dos filmes de ficção do cinema mudo com os que se seguirão. Explico: em cada etapa da evolução dá-se o clímax; desse clímax, surge o novo. Este “novo” representa direção, som, cor, roteiro, fotografia, efeitos especiais, etc.
De tempos em tempos, há esta mudança, reviravolta. Da ruptura com o agora “antigo”, parte-se do princípio, quase que como uma volta de 360 graus: a reaprendizagem envolvendo uma nova geração de técnicos, diretores, roteiristas. E os anos trinta representam isso: a ruptura do cinema mudo e o aprender a falar, “reexpressando-se”. Isto envolve novas idéias, erros e acertos.
Volta a Der Tunnel/Le Tunnel/The Transatlantic Tunnel: o filme é o engatinhar da ficção com o som e isto significa a busca de diálogos antes desnecessários. Cada uma destas três obras representa uma tentativa diferente, ainda que duas sejam dirigidas pelo mesmo homem.
Este comentário não é propriamente uma análise objetiva do filme em si, mas do proceso pelo qual foi feito. As versões que assisti despertaram neste comentarista um rompante "paranormal" já dito à Thintosecco: por vezes parece que assisto fantasmas.
Tão ruim é a cópia inglesa que a tela parece ser um portal dimensional para o passado: onde se vislumbra uma geração morta e esquecida; de atores, por vezes geniais, cujos gestos ficam imortalizados em celulóide. Dá arrepios até: se o Tiranossauro Rex de Jurassic Park é escrachadamente um efeito gráfico, mais me impressiona são os seres ainda encarnados em vídeo!
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