Quatermass
Em agosto de 1998 estreou em Porto Alegre o último filme do diretor Roland Emmerich, Godzilla. Lá estava eu me preparando para assistir algo diferente daquilo já visto nos homônimos japoneses, quando levei um susto!
A cena de abertura: a preparação de um artefato nuclear numa das ilhas do Oceano Pacífico, com imagens datadas dos anos quarenta e cinquenta. Após, a explosão. Depois, um pesqueiro, o Kobayachi Maru é atacado por um monstro. Logo em seguida o bicho desembarca no porto de Nova Iorque e se esgueira por entre os prédios...
Vamos parar por aqui! De cara, já deu para perceber que o filme ou é uma sátira aos filmes de ficção ou o diretor confia demais na pouca memória do expectador ou os dois! Kobayachi Maru é um teste da Frota Estelar, visto primeiramente em A Ira de Khan (1982). Já o Godzilla, propriamente dito, é fruto também de outro filme. Um filme já muito esquecido. Uma pequena e quase desconhecida obra de Eugene Lourie com efeitos especiais de Ray Harryhausen.
Para falar a verdade, foi o segundo filme do mestre; o primeiro, Mighty Young Joe (1949) é ainda mais raro. O Monstro do Mar (The Beast from Twenty Thousand Fathons – 1953) representou um marco: um filme de baixo custo (uns $ 200,000) que rendeu cinco milhões de dólares na época. E não era pouca coisa, a ponto de despertar a cobiça nipônica e, no ano seguinte estrear no Japão o primeiro e único (para eles e para nossa crítica cinéfila) lagarto que saiu do mar e devastou Nova Iorque/Tóquio. Mas não! O precursor foi o arqueologicamente esquecido dinossauro de Harryhausen.
O Rhedosauro havia sido descongelado por uma explosão nuclear no Ártico. Um cientista testemunhou seu despertar e foi tratado como louco. Enquanto isso, o bicho vai nadando para o sul, passando pelo Canadá (onde afunda pesqueiros e devora um batiscafo) e chega a seu destino: Nova Iorque que, depois de Tóquio é a capital mundial das desgraças alienígenas/monstruosas.
Do porto desfila pelos prédios em meio à multidão e é a noite que passa a ser caçado. Mas o animal, ferido, libera uma toxina letal para os humanos e somente é morto dentro de um parque de diversões (na montanha russa), quando o ator estreante Lee Van Cleef elimina a fera.
E daí, dirá o nobre internauta: porque me preocupar com um filme que passou inúmeras vezes nas tardes da Globo nos anos setenta (sendo que em julho de 1979 foi a última vez que foi transmitido), enquanto que os efeitos especiais de hoje são mais atraentes? Direi eu: quando assisti o filme de Roland Emmerich saí frustrado.
Uns dois anos antes passou no Warner Channel, mais precisamente na “Sessão Bizarro”, O Monstro do Mar. Aí relembrei a qualidade do roteiro, o timming perfeito, o trabalho em stop motion de Harryhausen. E, diga-se de passagem, havia gravado na época (dezembro de 1996) e revi. Não deveria tê-lo feito! Me arrependi então de ter lido aquelas baboseiras que foram escritas nas revistas de cinema e vídeo e do filme que assisti no cinema.
O Monstro do Mar tende a ser o filme esquecido, cheio de qualidades, o pioneiro e, como tal, sucedido por imitações.
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