Que bom ! Estamos vivendo.
Esta pretende ser a primeira postagem de uma série para refletir um pouco sobre o tempo. De passagem, comentarei sobre o filme The Time Machine (1960) - do qual foi extraída a imagem acima - e, mais especialmente, sobre o romance que lhe deu origem.
Na verdade, há anos penso em escrever algo sobre o livro A Máquina do Tempo, de H. G. Wells (UK, 1866-1946) e, quem sabe, sobre suas versões para o cinema e influência sobre outras obras. Emperrei, como em outras ocasiões, por querer fazer demais. Vamos de novo, agora com mais simplicidade. Para começar, preciso dizer que The Time Machine (1895) é considerado por muitos o primeiro romance de ficção científica.
Claro que há polêmica aí. Alguém lembrará de Jules Verne (1828-1905), já que obras como Da Terra à Lua e Vinte Mil Léguas Submarinas são anteriores ao livro de Wells em, pelo menos, um quarto de século. Acho interessante o argumento de que, em Verne, a ficção científica está inserida no contexto das obras, que são essencialmente romances de aventuras.
Porém, alguém perguntará sobre Frankenstein, de Mary Shelley (1818). Então, é melhor fazer o seguinte: deixar para lá a questão da primeira ficção científica e tratar do autor e de sua obra.
Claro que há polêmica aí. Alguém lembrará de Jules Verne (1828-1905), já que obras como Da Terra à Lua e Vinte Mil Léguas Submarinas são anteriores ao livro de Wells em, pelo menos, um quarto de século. Acho interessante o argumento de que, em Verne, a ficção científica está inserida no contexto das obras, que são essencialmente romances de aventuras.
Porém, alguém perguntará sobre Frankenstein, de Mary Shelley (1818). Então, é melhor fazer o seguinte: deixar para lá a questão da primeira ficção científica e tratar do autor e de sua obra.
Herbert George Wells foi professor, jornalista e escritor. É mais famoso por suas obras de ficção, que os especialistas classificam como romances utópicos. A expressão pode passar uma ideia equivocada: a de o autor retratar futuros idílicos, cenários paradisíacos, coisas assim. Nada disso.
Pensem em Guerra dos Mundos (The War of the Worlds, 1898), quando uma invasão marciana arrasa a Inglaterra. Nessa história, todos os recursos humanos mostram-se inúteis para enfrentar uma tecnologia superior, porém no final, quanto tudo parece perdido, um elemento da natureza, absolutamente alheio à ação humana, intervém para salvar a civilização impotente. Onde estaria a utopia ?
É que transparece nas obras de Wells que o autor deseja um mundo melhor. Mas esse desejo se manifesta nas entrelinhas das narrativas. O leitor não encontrará discursos políticos em A Máquina do Tempo, mas o enredo o levará a pensar, entre outras, sobre questões sociais.
Na obra, H. G. Wells nos leva a acompanhar o protagonista, simplesmente chamado Viajante do Tempo, até um futuro distante - mais precisamente, ano 802.701 - onde encontra descendentes da espécie humana, denominados Eloi - vivendo no que parece ser, a princípio, uma realidade paradisíaca. Gradativamente, vai descobrindo que algo "não fecha" no aparente paraíso.
Os Elói comunicam-se de forma rudimentar, abrigam-se em prédios em ruínas - presumivelmente o que restou de nossa civilização - e não trabalham. Vivem sem preocupações, quase como crianças. O Viajante pergunta-se: por que não existem velhos ? De onde vem a comida ? E as roupas ? E por que esses seres tem pavor da noite ?
Vem então a terrível revelação: existem outros humanoides vivendo no mundo futuro. Também descendentes da espécie humana, mas de aspecto monstruoso. São os Morlocks, que vivem na escuridão subterrânea e, portanto, não suportam a luz do dia. Ainda dominam um pouco da tecnologia de seus antepassados e, o pior: são predadores dos Eloi..
Trata-se de uma obra de ficção e aventura, na qual transparece a preocupação de Wells com as diferenças sociais, mais claramente no momento em que o Viajante do Tempo cogita que Elois e Morlocks podem ter origem em diferentes classes de nossa sociedade.
Quanto à especulação científica, é preciso dizer que o mecanismo da máquina não é explicado em momento algum. O que importa é o que ela faz. Isso é o bastante, tanto para contar a história como para mexer com a imaginação do leitor. A exposição sobre a "quarta dimensão", no início da obra, até é interessante, mas baseada em entendimento há muito superado, valendo lembrar que A Máquina do Tempo é anterior aos trabalhos de Albert Einstein.
O genial físico alemão afirmou que o espaço e o tempo estão entrelaçados. "Tudo no Universo se move a uma velocidade distribuída entre as dimensões de tempo e espaço." Assim, uma hipotética viagem no tempo ocorreria simultaneamente no tempo e no espaço. Na obra de H. G. Wells, diversamente, o Viajante move-se apenas no tempo, podendo até assistir o efeito da passagem dos dias sobre o ambiente a sua volta.
O livro de Wells estimula o leitor a pensar, imaginar, questionar e quem sabe até pesquisar e tirar suas próprias conclusões. Parece que convida o leitor a pensar com ele, mesmo que chegue a conclusões diversas. Em A Máquina do Tempo, mostrou num futuro distante uma condição selvagem e sinistra para a espécie humana, mas cabe ressaltar que o viajante do tempo retorna para sua época para contar o que viu. O amanhã apavorante que presenciou, além de distante, é apenas uma possibilidade.
CONTINUARÁ.
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