A gente  vive num mundo cheio de referências sólidas. Nos apoiamos na firmeza da cama e  do vaso sanitário. E respeitamos códigos rígidos.  
Os relógios estão mais ou  menos sincronizados para registrar nosso atraso. Os faróis de trânsito são  implacáveis no seu amarelo-vermelho-verde.
 E as  pessoas de nosso dia-a-dia também são rígidas e formais. É o guarda de trânsito  que tem orgasmo cada vez que multa alguém e que atende com um ar broxante cada  vez que tem que orientar um cidadão. É o caixa do banco e o médico que nem mesmo  nos olham nos olhos. Implacáveis nas suas  funções.
De tanto interagir com gente  coisificada dentro de um mundo cheio de rigidez é um alívio quando ainda nos  captamos vivos e representantes aqui na Terra dos grandes potenciais criativos  da alma humana.
Conseguimos exercitar nosso lado vivo quando damos mais atenção à  nossa intuição e talvez venhamos a descobrir que sobreviver é um processo  permanente. 
Que cada dia, cada decisão,  cada relacionamento com as pessoas e o mundo ao nosso redor são apenas flashes  de nosso processo líquido de sobrevivência.
O mundo e  as pessoas podem até ter a pretensão de serem rigidamente sólidos. Mas nós somos  almas líquidas. Tão sutis que escolhemos muitas vezes a leveza poética de um  beijo molhado em vez de um palavrão cheio de  dentes.
Que nos agarramos com firmeza  mesmo é em nossa fé em nós mesmos, na nossa determinação de não desistir nunca  diante das tolas dificuldades cotidianas.
Somos  almas líquidas e poetas ambulantes. E amplos e irrestritos, ocupamos várias  personalidades ao mesmo tempo. Somos pais e mães. E filhos e avós. Somos  transcendentes. Somos o antes e o depois de nossa própria  época.
Sabemos que sobreviver é  avançar além da aparência besta das coisas sólidas e dos códigos rígidos. É  arrancar do mundo ao nosso redor, com a força de nossa intuição, as necessidades  ainda nem sonhadas.
Sobreviver é um processo permanente de chegar antes às respostas. Porque só quem aprendeu a valorizar a sobrevivência enquanto humanos sabe que perto das respostas estão as necessidades ainda transparentes, que ao serem bem cuidadas, podem se transformar em fonte de sobrevivência para cada um de nós.
Esse texto é de autoria do jornalista Marco Roza e foi publicado em 2006 no site da revista Isto é Dinheiro. Guardei e agora posto aqui, onde vou seguir colocando alguns pensamentos, de vez em quando. Abraços!
  

2 comentários:
Muito bom texto, brother...mas quem dera todos pudessem ser tão ´´transcendentes´´ assim como ele diz...pois existem as gentes...e as pessoas. Das pessoas há aqueles como o autor, que buscam passar adiante essa luz que conseguiram...mas há muitos, que não têm a mínima noção,seja por falta de instrução ou vontade,e outros tantos piores que se iludem com falsas grandezas e valores, mas estão estragados por dentro...
...Sobrevier é um processo, e acho que almas líqüidas é algo até bem aproximado daquilo que somos...mas é preciso querer viver...sentir o ritmo da correnteza, p'ra poder se entregar ao fluxo...
Sim, há o guarda de trânsito e o caixa do banco, como ele cita. Mas a nossa luta maior é essa, de nos mantermos "líquidos", aí está a transcendência. Não estagnar. O galho seco é aquele que quebra, meu velho. Um grande abraço, amigão!
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