sábado, 21 de julho de 2012

PROMETHEUS E NÃO CUMPRIUS






por Quatermass



Prometheus (2012) é daqueles filmes em que se gera uma expectativa e 99,9% da plateia sai do cinema decepcionada. Sei que estou “chovendo no molhado” e há centenas de blogs metendo o pau no filme de Ridley Scott. Só que, como em Alien, meio mundo não entendeu a mensagem!


Lembro-me de uma das críticas de Alien, o Oitavo Passageiro (1979) quando da estreia de Aliens o Resgate (1986): era de que o filme anterior demorava a decolar. O público e a crítica, como hoje, não tem mais paciência para ouvir trololó durante meia hora sem que apareçam gritos histéricos, explosões e rockn’roll. Spielberg, George Lucas e Michael Bay ditaram uma moda que pegou.


Com uma carreira de altos e baixos (G. I. Jane - 1997 e Hannibal - 2001, por exemplo), quem já assistiu aos outros filmes de Ridley Scott não vai encontrar baixarias e outras drogas. Se no primeiro filme Os Duelistas (1977), a história da eterna busca pela resolução de um duelo inacabado seria o suficiente para afugentar praticamente todos do cinema, Alien segue a mesma regra. A história do oitavo passageiro que vai eliminando os demais membros da Nostromo é extremamente singela, pois não busca divagações pseudofilosóficas; visa apenas testar os nervos do expectador (chega a ser irracional de tão simples). 


Aliás, O Oitavo Passageiro foi uma feliz releitura de It! The Terror From Beyond the Space (1958), um filme super-mega-master trash (nem A, nem, B, nem C... Z, talvez). E aí Dan O’Bannon genialmente reconstruiu a história mesclando suspense (e não terror) com ficção científica. Vinte anos depois virou cult!




E Prometheus? Trilhou por um caminho diferente: praticamente criou-se um roteiro do zero; mais precisamente escrevendo uma prequel de Alien, temperado com Von Daniken (que já defendi neste blog) e Ridleyscottismos (PS: há comentários excelentes, inclusive o de Lidia Zuin, http://contraversao.com/sobre-o-que-enfim-fala-prometheus/). 



O resumo da história: dois cientistas convencem o milionário Peter Weyland a bancar uma expedição até uma lua onde supostamente estariam os seres que deram origem ao homem. Chamados “Engenheiros”, estariam diretamente ligados às descrições oriundas de povos da antiguidade (aí entra Daniken). 


Mas a cientista mignon, Dra. Elizaberth Shawn acaba descobrindo que as intenções dos criadores mudaram e que aquela lua serviu apenas como instalação para desenvolvimento de armas de destruição em massa, e que por um motivo desconhecido séculos atrás, os “Engenheiros” não puderam empreender seu plano de eliminar a raça humana. 
  




 




Muito simples até (e motivo para muitas críticas) se ficasse apenas na ideia base. Acontece que Scott adora mudar roteiros (ou desconsiderar o livro de onde partiu o script, como em Blade Runner) e quis tecer sua atenção para dois personagens: a cientista e o androide David, mas o tiro saiu pela culatra! 


Noomi Rapace até que é engraçadinha como Elizabeth Shawn; no entanto, ao tratar sua personagem desde o início como um serzinho frágil (baixinha, estéril, e cuja fé naquilo que quer acreditar ninguém leva a sério), torna-se chata com o passar do tempo (apesar dos pesares, a tenente Ripley (Sigourney Weaver) sempre demonstrou ser mais durona e sem frescuras). 







Por sua vez, Michael Fassbender rouba todas as cenas no papel de David. Mais, ao incorporar os trejeitos de T. E. Lawrence/Peter O’Toole (Lawrence da Arábia) lhe é conferida toda a complexidade do herói/ator inglês (isso mesmo dos dois)! Bastaria ter só ele em cena que já valeria o ingresso, tamanha a força daquele personagem: por vezes cínico, lógico ou admirador do arianismo. Um ser complexo demais para buscar apenas sua liberdade, pois dá a impressão de já tê-la conquistado! 





 


Ao contrário do senso comum, sempre que se faz presente no roteiro o aspecto dúbio, a ambiguidade, é que o filme ganha força. Quanto ao resto, nada há de novo ou deveria causar surpresa. Já não há mais um Jerry Goldsmith para compor uma trilha memorável (uma das receitas de sucesso de Alien), mas Marc Streitenfeld dá conta do recado com uma composição discreta, insinuante e de certa forma muito acima da média (a ponto de chamar a atenção deste cinéfilo). A fotografia do polonês Dariusz Wolski e os efeitos especiais também enchem os olhos. 


E então: por que o público não gostou (já que de certa forma considero o melhor filme de ficção do 1º semestre de 2012)? Vai ver porque estamos em ano de eleições e os cabos eleitorais (entenda-se aqui revistas de cinema & vídeo e distribuidores) enchem demais a bolinha de seus candidatos, dotando-os de superpoderes, fazendo o pobre eleitor (assim, como o cinéfilo inocente) acreditar em suas promessas, para somente depois de pago o ingresso descobrir que na tela não aparecerá Indiana Jones, Darth Vader  ou o Líder Optimus!







2 comentários:

Taiguara disse...

Existe a questão da fomentação das expectativas pela indústria. Primeiro promovem exageradamente um filme e nos decepcionamos até com filmes razoavelmente bons, porque não correspondem a tudo aquilo. E depois, como disseste, promovem da mesma forma obras bem inferiores, nivelando tudo por baixo.

Outro ponto é que aqueles que criticam o Ridley Scott deveriam apontar qual outro diretor de filmes de ficção o superou. O James Cameron com certeza não, já que se tirarmos o espetáculo visual do Avatar, o que sobra é uma espécie de "Pocahontas no Espaço". E os filmes do Michael Bay, com seus "corre-corres", têm roteiros melhores? Concordo contigo. Dizerem que "prometeu e não cumpriu" é fácil e fazer filmes de elevado orçamento hoje não é, tendo que agradar às "exigências do mercado", ou seja, garantir o lucro dos produtores e investidores. Apesar dos senões, o Scott ainda é diferenciado. Valeu.

João Paulo disse...

é mais fácil acreditar em ''engenheiros'' do que em promessa de político brasileiro

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