quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

IKIRU (VIVER)


Quatermass




Quando Akira Kurosawa quis realizar esta obra, a idéia básica estava sintetizada da seguinte forma: um homem doente com alguns meses para viver. Ikiru (Viver - 1952) não pretende filosofar sobre a vida, mas questiona o desperdício desta. O filme dá um show, uma incessante seqüência de imagens inesquecíveis com a mesma mensagem.



O Japão americanizado do pós-guerra é o palco para este drama. Kanji Watanabe (Takashi Shimura) era escravo da própria vida que levava. O genial prólogo, co-escrito pelo próprio Kurosawa, cujo narrador desdenha a insuportável rotina de um servidor público que durante trinta anos era exemplo do eficiente marasmo.



Ao saber da existência de um câncer no estômago, larga seus afazeres e passa a redescobrir o que intencionalmente havia deixado de lado. Viúvo, havia se dedicado exclusivamente ao filho (cujo interesse pelo fundo da aposentadoria do pai é maior que qualquer afeto).


Watanabe já estava morto vinte anos antes; o câncer apenas abreviou sua agonia! De início resolve gastar suas economias com os prazeres da vida noturna. Durante a noitada, num momento de melancolia, canta Gôndola Uta, uma canção devastadoramente simples e sem grandes arranjos musicais – nem precisa! Mas é pelo encontro com a jovem Toyo Odagiri, que descobre a face sincera, ingênua e verdadeiramente alegre da vida.




Então com uma nesga de vida que lhe restava desabrochou para a posteridade. Toma uma atitude drástica: servir à população, agir como um agente público/político. Persevera, obstinadamente, contra a inércia da própria administração municipal, pela construção de um pequeno parque – requerido pela associação de moradores. Em reconhecimento, a população presta homenagens post mortem, contra a vontade dos políticos!



A burocracia, ao que parece é pior que a morte: a segunda é inerente à vida, tem um fim; a primeira, também é inerente, porém, eterna! Mas, deixando de lado os aspectos tristemente sombrios, Kurosawa, nos presenteia com um dos mais belos e singelos finais de sua filmografia: a cena dos balanços, mas para curtir e entender seu significado, o expectador precisa mergulhar de cabeça.


Mesmo de curta duração, a vida é para ser percebida, admirada, valorizada, digna; a morte não é triste se nossa passagem tiver um sentido.



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