domingo, 12 de julho de 2009

REI ARTHUR





Quatermass



Apesar do produtor Jerry Bruckheimer não ter apreço por filmes de qualidade, Rei Arthur (King Arthur – 2004) surpreende. Surpreende por não ser mais um filme caça-níqueis.


Surpreende pela originalidade da história, que tenta fugir da lenda e ser mais contextualizado. Surpreende pela ótima direção de Antoine Fuqua. Surpreende pela qualidade do elenco, principalmente do rei saxão e dos bravos cavaleiros Sarmatas. Surpreende pela grandiosa trilha de Hans Zimmer. Surpreende pelo “todo” funcionar esplendidamente bem. E, por incrível que possa parecer, é um filme de Jerry Bruckheimer!


Lembro-me de anos atrás ter assistido no Discovery Channel um documentário acerca do lendário rei. E de que pesquisas arqueológicas concluíram que Arthur fora um militar romano que havia defendido a ilha de uma invasão. Mais, que estes indícios apontam para os séculos V ou VI da nossa era e não para a fase áurea da Idade Média. E que talvez este militar tenha sido romanticamente idealizado justamente mil anos depois.

Sob este aspecto, uma comparação é inevitável: Excalibur (1981), de John Boorman. Este último trabalha com a lenda pura e simples, um rei e seus cavaleiros em plena Idade Média, um mago, uma feiticeira e uma espada encravada na rocha. Em ambos os filmes o fato da espada estar encravada na pedra é um detalhe que passa quase despercebido (Walt Disney retrata mais detalhadamente em A Espada Era a Lei – 1963 ). Só que John Boorman carrega sua obra com alegorias e árias. Foi quando tive meu primeiro contato com Carmina Burana.

De outro lado, Antoine Fuqua despeja certas correlações históricas difíceis de rebater. Realmente, a ilha esteve sob domínio romano (Londinium = Londres) e é até provável que algum Artorius tenha comandado a guarnição e se tornado líder. Só que Fuqua enriquece este filme com figuras idealizadas e heróicas: os valentes, mortíferos e quase indestrutíveis cavaleiros de Arthur também são mitológicos. Seu Merlin é menos enigmático que o de Boorman, mas factível. A ausência da feiticeira talvez seja a lacuna mais sensível. Mesmo assim, o rei Cerdic e seu filho, ambos saxões, roubam as cenas, fazendo-nos esquecer a necessidade de uma Mônica Bellucci. Guinevere (Keira Knightley) apresenta-se assexuada se comparada a sua equivalente lendária de 1981. Clive Owen está mais convincente como Arthur/Artorius do que o homônimo dos anos oitenta.



Mesmo assim são filmes diferentes e que devem ser analisados sob óticas distintas. São pequenas obras primas que jamais devem ser dissociadas; ao contrário, e inconsistentemente falando, são complementares: afinal, se mostrássemos sempre a verdade nua e crua, os livros de história não despertariam interesse algum!




1 comentários:

Marcos* disse...

Gostei muito do seu comentário: simples e "to the point". Concordo com seus pontos de vista a respeito do filme: Rei Arthur de Antoine Fuqua hoje faz parte da minha coleção de DVDs, tal como Excalibur também faz, por falar nisso. Sua visita ao meu blog será extremamente bem-vinda! Escrevi sobre Rei Arthur em 2004, foi um dos primeiros textos que postei, está lá no arquivo e nunca é demais receber comentários. Abraços!

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