quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

OS CICLOS DE CINEMA DO BRISTOL



por Quatermass



Ahhhh, Porto Alegre, quantas saudades tenho de seus cinemas de bairro! A quase totalidade já fechou. Mas havia um especial, uma pequenina sala de exibição anexa ao Cine Baltimore: o Bristol.


O acesso era estreito, a sala de exibição incrivelmente escura, mas havia um charme. Sentia-me um cliente VIP em um local muito especial. De meados dos anos setenta até os oitenta este pequeno cinema possuía uma programação distinta. Não apresentava os lançamentos de circuito nacional. A sua especialidade eram os ciclos. A cada semana um determinado tema era escolhido e a cada dia um filme era exibido dentro do contexto.


Por exemplo: ciclo de diretores, atores, gêneros. Confesso que foi por este último que me atraiu: mais precisamente, os de ficção científica. Só fui ver Alien - o Oitavo Passageiro (1979) dois anos depois, no Bristol. Uma pena, pois quando a obra de Ridley Scott estreou foi muito badalada, inclusive, me apaixonei por uma ótima crítica publicada no jornal Correio do Povo. Mas, contudo, todavia, entretanto... não encontrei companhia para ver o filme (problema solucionado no ano seguinte, quando fui ver sozinho Jornada nas Estrelas).


Daí por diante, não deixei mais de ver o que queira por ignorância alheia. Nunca vou me esquecer. O ano era 1981. Almocei e saí da PUC disposto a ver o filme de qualquer jeito. Cheguei na Av. Osvaldo Aranha, às 13h30min, e adentrei no cinema e desagradavelmente constatei que o filme havia começado 15 minutos antes.


Que pena pensei! Bom! Vou ver o resto! Terminada a sessão, para minha surpresa, vi que a maioria do pessoal não foi embora; ao contrário, mais gente chegou para a sessão seguinte e todo mundo ficou (que bons tempos aqueles). Assisti os 15 minutos perdidos mais o restante da obra de novo. Mas não fiquei com remorso, pois a maioria da platéia fez o mesmo!


Conclusão: o Bristol não era um cinema para público comum, era para aficionados. Mais, havia um respeito por este seleto grupo de fiéis admiradores da sétima arte, pois quando saí da segunda sessão fui um dos poucos a fazê-lo; a maioria novamente ficou! De sua parte, os freqüentadores respondiam com silêncio, sem badernas e baixarias.


Senti-me um cinéfilo, mais um que ingressou no seleto grupo e tudo isto devo a uma pequena sala de exibição que agora existe somente em minhas lembranças.








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