sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

BLADE RUNNER




por Quatermass



Blade Runner é um filme claustrofóbico? É. Um misto de ficção com film noir? Também. Possui uma visão pessimista do futuro? Possui. A trilha sonora de Vangelis é maravilhosa? Com certeza. É baseado numa história de Philip K. Dick? 100% certo. Então por que tantas versões definitivas?


A Warner agora está lançando quatro versões do mesmo filme: a primeira, modificada pelos produtores, com narrativa de Harrison Ford e cenas excluídas; a segunda, modificada pelos produtores, com narrativa Harrison Ford e com as cenas excluídas incluídas (repito de propósito); a terceira, a versão de 1992, modificada pelo diretor Ridley Scott, sem narrativa de Harrison Ford, do jeito como queria; a quarta, a versão de 2007, modificada pelo diretor Ridley Scott, sem narrativa de Harrison Ford, do jeito como queria e com algumas correções técnicas.


Mais uma pergunta: até que ponto um filme é propriedade intelectual exclusiva do diretor? A matriz, como já disse, foi de Philip K. Dick, que sofreu releitura por dois roteiristas, primeiro por Hampton Fancher, depois por David Peoples; Syd Mead acrescentou o visual futurista; Vangelis, criou um sonho etéreo em forma de música, e Ridley Scott chamou para si o trabalho desta turma e dirigiu a obra.



E daí? Será em que 2020 sairá a 15ª versão definitiva de Blade Runner? Pessoalmente e polemicamente falando gostei muita da versão de 1982, gostei do final feliz, gostei da edição feita pelos produtores a contragosto do diretor (que sua edição de 1992 demonstrou ser uma releitura besta).


Se houve cenas planejadas e não filmadas, será que a culpa também não é a do diretor? Sonho com unicórnio, fala sério! Afinal será só Rick Deckard replicante? No roteiro constam outros... Se houve estouro no orçamento e demora nas filmagens, a responsabilidade também não é dele?


Lembro-me de um documentário em VHS de Apocalypse Now (Apocalipse de um Cineasta), em que mostra as filmagens da cena da fazenda francesa. Concluída, seu diretor a excluiu na montagem de 1979. Quando a vi lastimei sua ausência. Posteriormente, em Apolcalypse Now Redux, foi incluída. Ela não é essencial, mas contextual: mostra a presença da França na Indochina (depois Vietnan) enquanto potencia colonial. O filme é uma releitura de O Coração das Trevas, obra de Joseph Konrad, mas é um trabalho conceitual: Coppola bancou, roteirizou e dirigiu.


Agora, e em Blade Runner? O que acrescenta tantas versões definitivas do diretor? Philip K. Dick estará satisfeito? Será que sua obra não foi suficientemente alterada, a ponto de servir de meros caça-níqueis? Volto a repetir (de novo) fui ao cinema em 1982, gostei; vi em VHS a mesma versão, gostei; mas com o DVD da versão de 1992, faltou alguma coisa. O que será? A ausência do novo, algo que deveria ter sido filmado e não foi, algo que tinha no livro e que foi relegado, o(s) roteiro(s) que não foi(ram) seguido(s) à risca.


Então penso eu: será que não está faltando alguma historia mais interessante para o ocioso Ridley Scott filmar?




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