sábado, 29 de novembro de 2014

INTERSTELLAR







por Quatermass




“Não lamente a boa noite apenas com ternura. A velhice queima e clama ao cair do dia. Fúria, fúria, contra a morte da luz (do dia).”  




Interstellar (2014) é uma grande obra de Christopher Nolan, mas ainda bem aquém de 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968) e do soviético Solaris (1971)


Os dois últimos filmes são obras primas da ficção científica por excelência, serão sempre referências: detém considerável domínio técnico e não são autoexplicativos; seus diretores questionam sem emoções a evolução e a existência humana, respectivamente; não estão nem aí para continuações, pois seus filmes são o início, meio e fim.


E Interstellar? É um dos melhores filmes de ficção científica já realizados, mas está 40 anos atrás de Kubrick e Tarkovski. Por que? Porque Nolan carrega a obra com emoções e sentimentos, porque às vezes para a locomotiva para explicar ao cinéfilo questões astronômicas complexas, porque quis brindar com um ótimo filme e conseguiu! Agora explico eu: Interstellar é daqueles filmes, que ao contrário de 2001 e Solaris, pode ser visto semanalmente sem cansar. 











Mescla várias referências o tempo todo: a música de Hans Zimmer relembra as space operas 2001 e Star Trek – The Motion Picture (1979); os dois robôs TARS e CASE lembram figuras geométricas bem ao gosto de Kurt Newman, diretor alemão de Kronos (1957); as mensagens de carinho, saudade, felicidade, fortemente unidas entre pai e filha, bem ao gosto spielbergniano;  mesma explicação sobre o fenômeno chamado “buraco de verme” antes vista em Enigma do Horizonte (Event Horizon - 1997); ao final, a filha já idosa e à beira da morte na cama relembra 2001; e a minha passagem favorita: os versos do poeta galês Dylan Thomas (1914-1953), recitados por Michael Caine, Matt Damon e Matthew McConaughey.  


Com tanta gente falando sobre relações de Interstellar com 2001, por que diabos falo de um poeta que inominável maioria dos brasileiros nunca ouviu falar ? Porque o filme é uma releitura de DO NOT GO GENTLE INTO THAT GOOD NIGHT.











Adoro divagar, mas após assistir o filme no GNC Iguatemi e dentro de um cinema russo com dublagem porcamente gravada em português na Internet, passei a perceber a beleza da mensagem que o poema e o filme expressam: mesmo diante do inexorável avanço do tempo isolando o homem pelas incríveis distâncias do universo, ainda persiste o inseparável elo entre pai e filha. 


Desta ideia cria-se uma Terra sem futuro, inóspita ao homem, a ponto de ter de abandoná-la. Para onde? Em outra galáxia. Como? Através de uma anomalia próxima à Saturno, uma ponte entre duas distâncias inimagináveis, cujo custo é longo período de viagem, pois segundo a Lei da Relatividade, o tempo flui mais lento quando na velocidade da luz. Logo, se a viagem for longa demais, o ser humano não mais existirá e nosso herói, Cooper (Matthew McConaughey) não irá mais ver sua filha Murph ou, na melhor das hipóteses, em idade avançada.  










Aliás, como em A Origem (Inception - 2010) o roteiro sempre avança na direção da inevitável, inescapável e infalível dor de cabeça: o sonho dentro do sonho dentro do sonho; aqui, visto através das diversas janelas da 5ª dimensão, do “buraco de verme” (ou “buraco de minhoca” mencionado no filme) ou do “buraco negro” (carinhosamente chamado de “Gargantua”). 


O ideal é assistir a versão dublada sempre para poder dar conta das explicações astronômicas em tempo real, coisa sem sentido em 2001 e Solaris 





Do not go gentle into that good night


Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.

Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.

Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.

Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.

Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.

And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.



From The Poems of Dylan Thomas






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