segunda-feira, 28 de abril de 2008

ALEGRIA!


Quatermass


Se o caro internauta está pensando que vou falar sobre o espetáculo do Cirque du Soleil, errou por pouco. Vou sim falar sobre uma das inutilidades criadas por nossa sociedade de consumo e que passaram a integrar o way-of-life: o computador pessoal.

Computador é uma máquina criada para entreter. É um produto multimídia: acesso a internet, trabalhos gráficos, jogos, etc. Em suma, ao mesmo tempo é um bem supérfluo e necessário - não seria hipócrita a ponto de não reconhecer sua importância, senão o que seria deste blog? Supérfluo, porque tenta substituir o insubstituível: livros, o contato pessoal (na verdade, privilegia o anonimato), esportes e uma boa máquina de escrever (as mecânicas, que não precisam de luz nem de software). Necessário, em razão da sua incrível capacidade de adaptação às necessidades do usuário: eu, por exemplo, só uso para acesso à Internet e ver filmes, mais nada! Agora, tudo isto seria maravilhoso se não fosse um pequeno detalhe: é um produto e-x-t-r-e-m-a-m-e-n-t-e frágil. Necessita de constantes atenções e mimos. De início, aparenta ser uma criaturinha capaz e possante, mas, com o passar do tempo, vão sendo descobertas suas fragilidades: a constante desatualização do hardware, o descarte de antigos (e bons) programas e jogos em razão de incompatibilidades técnicas, a necessidade de utilizar antivírus e firewalls neuróticos e histéricos, a ilusão que faz chegar ao usuário de que este domina a máquina quando na verdade é o técnico (ou o que se diz ser) e os famigerados tabus.




Meu primeiro microcomputador foi um TK-82 da Microdigital, comprado em fins de 1982. Na verdade era um Apple *, mas como havia na época reserva de mercado, maquiaram de outra forma. Utilizava a televisão como monitor, que gerava imagem em preto-e-branco; bem como necessitava de um gravador para gravar/reproduzir programas. Isso mesmo, um gravador conectado à maquininha! O programa ficava contido numa fita cassete. Mesmo assim foi um período de aventuras: as revistas de informática da época eram cômicas, sempre contendo erros nas instruções dos programas.


A linguagem era Basic - alguém ainda se lembra? Como as revistas não vinham com disquetes, nem CDs, nem DVDs, o corajoso usuário tinha que digitar no bendito teclado plano do TK, ciente de que na próxima edição acompanharia a errata do número anterior! Depois de um ano enchi o saco, dei um tempo e voltei aos livros. Mais precisamente quinze anos depois, veio o computador seguinte: um potente Pentium MMX de 233 MHz, com 16 MB de RAM e um incrível Winchester de 3,2 GB (vá rindo, mas daqui a dez anos, quero ver a máquina que estará usando). Daí não parei mais, mas agora sinto falta daquele clima de aventura, do total abandono de vinte e cinco anos atrás.


Hoje é tudo mais sistemático e de razoável eficiência. Arquivos são baixados via Internet, contatos são feitos da mesma maneira. Se antes não havia sites eróticos nem e-mails, hoje dá no mesmo: tentar entrar num destes ou abrir mensagens suspeitas sem antivírus pode ser considerado suicídio para o computador. Antivírus, por sinal, cada vez mais potentes. Com isto fizeram o impensável: humanizaram a máquina! Máquina, que, quando funciona, proporciona 99% de alegria e 1% de frustração, mas como necessita de programas e de um cara que entenda mexer nela, a coisa se inverte! Daí somos vítimas do consumo e de um mercado voraz. Quando me lembro que em 1982 tudo era aventura (tudo mesmo, até saber a programação da TV o cinéfilo só sabia no dia), não havia telefonia celular, nem provedor de Internet e TV a cabo, etc, me pergunto: melhorou o contato entre as pessoas ou usa-se a distância como desculpa para a não aproximação? Será que no fundo não estamos fazendo uma palhaçada?

* ERRATA: Fazendo como faziam as revistas de informática dos anos 80: onde foi escrito que o TK era um Apple, entenda-se que era um Sinclair, no caso, o ZX-81. (Thintosecco)


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