segunda-feira, 31 de março de 2008

DOIS NO CÉU

por Quatermass


Nunca duvide da capacidade de uma criança guardar imagens em sua mente! Algumas serão levadas até o túmulo! E estas imagens podem ser extrapoladas em filmes. Foi o que fiz ao ver Dois no Céu (A Guy Named Joe – 1943). Confesso, vi várias vezes nas tardes da Globo, mas fazem mais de trinta anos. Mas também me lembro de ter visto uma vez na madrugada de sábado. Era guri, mas aprendi a apreciar obras cinematográficas muitas vezes sem saber o porquê. Óbvio, até hoje gosto de um bom filme (outros, preferem cerveja, pescaria, carros), mas aprendi a interpretar a razão. Por que Dois no Céu não me sai da cabeça? Por dois motivos: Spencer Tracy e a condução da história. Spielberg refilmou Dois no Céu como Always (1989), com Richard Dreyfuss, mas torci o nariz. Este filme é colorido, com atores contemporâneos, trilha sonora contemporânea, fotografia contemporânea, direção contemporânea. Mas falta algo. Algo que me chamou a atenção, algo que diferencia um filme do outro, de uma época para outra. Porque Casablanca é Casablanca? Não basta fazer uma refilmagem e esquecer o original? Será que os filmes são bons ou ruins pelo período? Não! Cada filme é um filme.

É redundante, mas nunca percebemos. Costumamos dizer que vimos a nova versão, como se esta trouxesse de volta todas as qualidades do original. Isto é falso! No máximo, uma releitura. Direção, fotografia, roteiro, atores, trilha sonora, nada disto é resgatado. Este é o valor de qualquer filme. Faça dez versões da mesma obra que serão dez filmes diferentes. Always não é, não será, nem nunca foi Dois no Céu. Richard Dreifuss não é Spencer Tracy. Muitas vezes chegamos a conclusões pelas contradições alheias. O segredo está em discernir pacientemente.


Mas vamos à história, vista pelo chato professor quando criança: durante a segunda guerra mundial, Pete Sandidge (Spencer Tracy), piloto de bombardeiro, namora Dorinda Durston (Irene Dunne), que também é piloto, mas para o transporte de aviões de guerra até o front. Após se despedirem para uma arriscada missão Sandidge morre ao chocar-se com um navio inimigo. Foi direto para São Pedro, mas como também é um filme de propaganda de guerra, lá no céu lhe é incumbido fazer papel de anjo ao auxiliar Ted Randall (Van Johnson), um desastrado novato candidato a piloto de combate.


Volta e constata, para seu desgosto que seu protegido se sente atraído por sua ex. De início relutante, ela apaixona-se pelo protegido, mas ao saber que também lhe é designado uma perigosa missão, parte em lugar do namorado. Qual foi o momento marcante em Dois no Céu? Este. Durante o vôo nossa mocinha não está só em seu P-38: Sandidge também a acompanha. Detrás de seu assento começa a falar com ela, quase ao pé do ouvido, declarando tudo aquilo que nunca antes teve coragem. E daí? Daí que ela o ouve! Esses diretores dos anos quarenta ainda têm muito a nos ensinar e Victor Fleming nos exibe uma declaração de amor singela, sincera e carinhosa, nada mais. Não precisamos ouvir Spencer Tracy, pois o rosto da atriz diz tudo. Isto é empatia. Isto é cinema!

VÍDEO 1

VÍDEO 2

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