sábado, 29 de dezembro de 2007

Um homem que leva a vida na flauta



por Thintosecco e Bianca





Tente imaginar esta cena. Numa tarde de sábado, Thintosecco e Bianca pegam um ônibus com destino a um Shopping. Coletivo tranqüilo, poucos passageiros. Sentamos lado a lado e vamos conversando até que começamos a ouvir o som de uma flauta doce.


Curioso, “espichei o olho”, procurando uma criança. Encontrei um senhor idoso, magro e de óculos, que começou a executar em seu instrumento o hino do Grêmio. O meu time, por sinal. Estava na fileira do outro lado do carro, alguns bancos à frente.


Atrás de mim, uma outra senhora idosa, colorada, dizia: “Eu mereço! Era só o que faltava. Também sou velha, tenho 81 anos e não incomodo os outros” – mais ou menos isso. Mas o velho tocou o refrão do hino do Grêmio umas três vezes, sendo aplaudido ao final. Depois o velho falou, sempre sorrindo.


Não se dirigiu a ninguém especificamente – olhava às vezes para o casal atrás dele, às vezes para umas moças à frente e de vez em quanto para nós – mas contou que tinha 99 anos – o que a senhora aquela duvidou - e gostava de tocar flauta. Que tocaria de boa vontade o hino do Internacional, mas não sabia. Apenas o do Grêmio. Estava com vontade de contar piadas, mas contaria apenas para as moças.


Levantou-se então e foi para perto das moças sentadas à frente. Não pude ouvir bem – ele contou a tal piada meio baixinho – mas as garotas ficaram envergonhadas. Depois veio para perto de nós, mas explicou que contaria a estória apenas para a Bianca, porque para homens não contava.


Perguntou-lhe se conhecia a piada da Rosa e da Couve-Flor. Não, ela disse. A Rosa falou para a Couve-Flor (a rosa não fala, mas é piada, viu?): Eu sou mais bonita que você, mais cheirosa que você, mais delicada que você. E a Couve-Flor respondeu: De que adianta ser a mais bonita, mais cheirosa e mais delicada, se ninguém te come?


Considerando a idade do vovô, achei graça. A velha atrás de mim resmungou alguma coisa, do tipo: “Que barbaridade!”, enquanto o tio voltava para o seu lugar e foi contar mais alguma estória para o casal sentado no banco de trás. O ônibus chegou ao Shopping, hora de descer. O velho prosseguiu, com toda sua independência, contando estórias e levando a vida na flauta. E a velha ranzinza? Não sei. Sei que o vi: A DIFERENÇA QUE FAZ, SABER LEVAR A VIDA NA FLAUTA.


2 comentários:

Anônimo disse...
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